terça-feira, 7 de dezembro de 2010

BENTO XVI APRESENTA SANTO AMBRÓSIO DE MILÃO

Santo Ambrósio impedindo o imperador Teodósio de adentrar na Igreja

Intervenção durante a audiência geral da quarta-feira - CIDADE DO VATICANO, 23 de outubro de 2007 - de Bento XVI, dedicada a apresentar a figura de Santo Ambrósio, bispo de Milão:


Queridos irmãos e irmãs:

O santo bispo Ambrósio, de quem vos falarei hoje, faleceu em Milão na noite entre os dias 3 e 4 de abril do ano 397. Era o amanhecer do sábado santo. No dia anterior, por volta das 17h, ele estava rezando, prostrado no leito, com os braços abertos em forma de cruz. Deste modo, participava do solene tríduo pascal, da morte e da ressurreição do Senhor. «Nós víamos que seus lábios se mexiam, testifica Paulino, o diácono fiel que por convite de Agostinho escreveu sua ‘Vida’, mas não escutávamos sua voz».

De repente, parecia que a situação chegava a seu fim. Honorato, bispo de Vercelli, que estava ajudando Ambrósio e que dormia no andar superior, acordou ao escutar uma voz que lhe repetia: «Levanta-te logo! Ambrósio está a ponto de morrer...». Honorato desceu imediatamente – continua contando Paulino – «e lhe ofereceu o santo Corpo do Senhor. Ao acabar de recebê-lo, Ambrósio entregou o espírito, levando consigo o viático. Deste modo, sua alma, alimentada pela virtude desse alimento, goza agora da companhia dos anjos» («Vida» 47).

Naquela sexta-feira santa do ano 297, os braços abertos de Ambrósio moribundo expressavam sua participação mística na morte e ressurreição do Senhor. Era sua última catequese: no silêncio das palavras, continuava falando com o testemunho da vida.

Ambrósio não era idoso quando faleceu. Não tinha nem sequer sessenta anos, pois nasceu por volta do ano 340 em Tréveris, onde seu pai era prefeito das Gálias. A família era cristã. Quando seu pai faleceu, sua mãe o levou a Roma, sendo ainda um menino, e lhe preparou para a carreira civil, dando-lhe uma sólida educação retórica e jurídica. Por volta do ano 370, propuseram-lhe governar as províncias de Emilia e Ligúria, com sede em Milão. Precisamente lá estava a luta entre ortodoxos e arianos, sobretudo depois da morte do bispo ariano Ausêncio. Ambrósio interveio para pacificar os espíritos das duas facções enfrentadas, e sua autoridade foi tal que, apesar de que não era mais que um simples catecúmeno, foi proclamado bispo de Milão pelo povo.

Até esse momento, Ambrósio era o mais alto magistrado do Império na Itália do norte. Sumamente preparado culturalmente, mas desprovido do conhecimento das Escrituras, o novo bispo dedicou-se a estudá-las com fervor. Aprendeu a conhecer e a comentar a Bíblia através das obras de Orígenes, o indiscutível mestre da «escola de Alexandria». Deste modo, Ambrósio levou ao ambiente latino a meditação das Escrituras começadas por Orígenes, começando no Ocidente a prática da «lectio divina».

O método da «lectio» chegou a guiar toda a pregação e os escritos de Ambrósio, que surgem precisamente da escuta orante da Palavra de Deus. Um célebre início de uma catequese ambrosiana mostra egregiamente a maneira em que o santo bispo aplicava o Antigo Testamento à vida cristã: «Quando lemos as histórias dos Patriarcas e as máximas dos Provérbios, enfrentamos cada dia a moral – diz o bispo de Milão a seus catecúmenos e aos neófitos – para que, formados por eles, vos acostumeis a entrar na vida dos Padres e a seguir o caminho da obediência aos preceitos divinos» («Os mistérios» 1, 1).

Em outras palavras, os neófitos e os catecúmenos, segundo o bispo, após ter aprendido a arte de viver moralmente, podiam considerar-se que já estavam preparados para os grandes mistérios de Cristo. Deste modo, a pregação de Ambrósio, que representa o coração de sua ingente obra literária, parte da leitura dos livros sagrados («os Patriarcas», ou seja, os livros históricos, e «os Provérbios», ou seja, os livros sapienciais), para viver segundo a Revelação divina.

É evidente que o testamento pessoal do pregador e a exemplaridade da comunidade cristã condiciona a eficácia da pregação. Desde este ponto de vista, é significativa uma passagem das «Confissões» de Santo Agostinho. Ele havia ido a Milão como professor de retórica; era cético, não cristão. Estava buscando, mas não era capaz de encontrar realmente a verdade cristã. Ao jovem retórico africano, cético e desesperado, não lhe moveram a converter-se definitivamente as belas homilias de Ambrósio (apesar de que as admirava muito). Foi mais o testemunho do bispo e de sua Igreja milanesa, que rezava e cantava, unida como um só corpo. Uma Igreja capaz de resistir à prepotência do imperador e de sua mãe, que nos primeiros dias do ano 386 haviam voltado a exigir a expropriação de um edifício de culto para as cerimônias dos arianos. No edifício que tinha que ser desapropriado, conta Agostinho, «o povo devoto velava, disposto a morrer com seu próprio bispo». Este testemunho das «Confissões» é belíssimo, pois mostra que algo estava acontecendo na intimidade de Agostinho, que continua dizendo: «E nós também, apesar de que ainda éramos tíbios, participávamos do movimento de todo o povo» («Confissões» 9, 7).

Da vida e do exemplo do bispo Ambrósio, Agostinho aprendeu a crer e a pregar. Podemos fazer referência a um famoso sermão do africano, que mereceu ser citado muitos séculos depois na Constituição conciliar «Dei Verbum»: «É necessário – adverte de fato a «Dei Verbum» no número 25 –, que todos os clérigos, sobretudo os sacerdotes de Cristo e os demais que, como os diáconos e catequistas, dedicam-se legitimamente ao ministério da palavra, submergem-se nas Escrituras com assídua leitura e com estudo diligente, para que nenhum deles acabe sendo – e aqui vem a citação de Agostinho – ‘pregador vazio e supérfluo da palavra de Deus, que não a escuta em seu interior’». Havia aprendido precisamente de Ambrósio essa «escuta em seu interior», essa assiduidade com a leitura da Sagrada Escritura com atitude de oração, para acolher realmente no coração e assimilar a Palavra de Deus.

Queridos irmãos e irmãs: quero apresentar-vos uma espécie de «ícone patrístico» que, interpretado à luz do que dissemos, representa eficazmente o coração da doutrina de Ambrósio. No mesmo livro das «Confissões», Agostinho narra seu encontro com Ambrósio, certamente um encontro de grande importância para a história da Igreja. Escreve que, quando visitava o bispo de Milão, sempre o via rodeado de pessoas cheias de problemas, por quem vivia para atender suas necessidades. Sempre havia uma longa fila que estava esperando pra falar com Ambrósio, para encontrar nele consolo e esperança. Quando Ambrósio não estava com eles, com as pessoas (e isso acontecia em brevíssimos espaços de tempo), ou estava alimentando o corpo com a comida necessária, ou o espírito com as leituras. Aqui Agostinho canta suas maravilhas, porque Ambrósio lia as Escrituras com a boca fechada, só com os olhos (cf. «Confissões». 6, 3). De fato, nos primeiros séculos cristãos, a leitura só se concebia para ser proclamada, e ler em voz alta facilitava também a compreensão a quem lia. O fato de que Ambrósio pudesse passar as páginas só com os olhos é para o admirado Agostinho uma capacidade singular de leitura e de familiaridade com as Escrituras. Pois bem, nessa leitura, na qual o coração se empenha por alcançar a compreensão da Palavra de Deus – este é o «ícone» do qual estamos falando –, pode-se entrever o método da catequese de Ambrósio: a própria Escritura, intimamente assimilada, sugere os conteúdos que é necessário anunciar para levar à conversão dos corações.

Deste modo, segundo o magistério de Ambrósio e de Agostinho, a catequese é inseparável do testemunho de vida. Pode servir também para o catequista o que escrevi na «Introdução ao cristianismo» sobre os teólogos. Quem educa na fé não pode correr o risco de apresentar-se como uma espécie de «clown», que recita um papel «por ofício». Mais ainda, utilizando uma imagem de Orígenes, escritor particularmente admirado por Ambrósio, tem de ser como o discípulo amado, que apoiou a cabeça no coração do Mestre, e lá aprendeu a maneira de pensar, de falar, de atuar. No final de tudo, o verdadeiro discípulo é quem anuncia o Evangelho da maneira mais confiável e eficaz.

Como o apóstolo João, o bispo Ambrósio, que nunca se cansava de repetir: «‘Omnia Christus est nobis’!; Cristo é tudo para nós!», continua sendo uma autêntica testemunha do Senhor. Com suas próprias palavras, cheias de amor por Jesus, concluímos assim nossa catequese: «‘Omnia Christus est nobis!’ Se queres curar uma ferida, ele é o médico; se estás ardendo de febre, ele é a fonte; se estás oprimido pela iniqüidade, ele é a justiça; se tens necessidade de ajuda, ele é a força, se tens medo da morte, ele é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho; se estás nas trevas, ele é a luz... Provai e vede que bom é o Senhor, bem-aventurado o homem que espera nele!» («De virginitate» 16, 99). Nós também esperamos em Cristo. Dessa forma seremos bem-aventurados e viveremos na paz.


Fonte: Tradução realizada por Zenit. © Copyright 2007 – Libreria Editrice Vaticana

terça-feira, 9 de novembro de 2010

EVANGELHO SEGUNDO S. JOÃO 2,13-22.

Bem-aventurado John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
PPS, vol. 6, n° 19

Festa da dedicação de uma catedral, festa da Igreja

Uma catedral é fruto de um desejo momentâneo ou é algo que se pode realizar pela vontade? [...] Com toda a certeza, as igrejas que herdamos não resultam apenas da gestão de capitais, nem são uma pura criação do gênio; são fruto do martírio, de grandes feitos e de sofrimentos. As suas fundações são muito profundas; elas assentam sobre a pregação dos apóstolos, sobre a confissão da fé dos santos, e sobre as primeiras conquistas do Evangelho no nosso país. Tudo o que é nobre na sua arquitetura, que cativa os olhos e chega ao coração, não é um puro resultado da imaginação dos homens, é um dom de Deus, é uma obra espiritual.

A cruz assenta sempre no risco e no sofrimento, é sempre regada com lágrimas e sangue. Em parte alguma cria raízes e dá fruto se a pregação não for acompanhada de renúncia. Os detentores do poder podem fazer um decreto, favorecer uma religião, mas não a podem estabelecer, podem apenas impô-la. Só a Igreja pode estabelecer a Igreja. Só os santos, os homens mortificados, os pregadores da retidão, os confessores da verdade, podem criar uma verdadeira casa para a verdade.

É por isso que os templos de Deus são também os monumentos dos Seus santos. [...] A sua simplicidade, a sua grandeza, a sua solidez, a sua graça e a sua beleza não fazem senão recordar a paciência e a pureza, a coragem e a doçura, a caridade e a fé daqueles que não adoraram a Deus apenas nas montanhas e nos desertos; eles sofreram, mas não em vão, porque outros herdaram os frutos do seu sofrimento (cf. Jo 4, 38). Efetivamente, em longo prazo, a sua palavra deu fruto; fez-se Igreja, esta catedral onde a Palavra vive desde há muito tempo. [...] Felizes os que entram nesta relação de comunhão com os santos do passado e com a Igreja universal. [...] Felizes os que, entrando nesta igreja, penetram de coração no céu.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

UM PAPA FIEL Á TRADIÇÃO E ABERTO Á RENOVAÇÃO: 32 ANOS ATRÁS MORRIA JOÃO PAULO I


Trinta e dois anos atrás, 28 de setembro de 1978, morria Albino Luciani, após apenas 33 dias de Pontificado: tinha 65 anos de idade.
Um tempo brevíssimo, mas intenso, que lhe valeu o afeto do povo, de fiéis e não-fiéis. Bento XVI o definiu mais vezes como um homem "doce e manso" e, ao mesmo tempo, "forte na fé, firme nos princípios, mas sempre disponível ao acolhimento e ao sorriso".
"Fiel à tradição e aberto à renovação": assim Bento XVI recorda João Paulo I. "Como sacerdote, como bispo e como Papa foi incansável na atividade pastoral – ressalta – estimulando clero e laicato a buscarem, nos vários campos do apostolado, o único e comum ideal da santidade."
"Mestre da verdade e catequista entusiasta, recordava a todos os fiéis, com a fascinante simplicidade que lhe era comum, o compromisso e a alegria da evangelização, ressaltando a beleza do amor cristão, única força capaz de derrotar a violência e construir uma humanidade mais fraterna" – ressalta ainda Bento XVI.
Mas é a humildade a característica principal de João Paulo I: "Humilitas", de fato, era o seu lema episcopal, uma "palavra que sintetiza o essencial da vida cristã e indica a indispensável virtude de quem, na Igreja, é chamado ao serviço da autoridade":
"Numa das quatro audiências gerais feitas durante o seu brevíssimo Pontificado disse, entre outras coisas, com aquele tom familiar que o caracterizava: "Limito-me a recomendar uma virtude tão querida para o Senhor: disse: aprendam de mim que sou manso e humilde de coração... Mesmo se vocês fizeram grandes coisas, digam: somos servos inúteis. E observou: "Ao invés, a tendência em todos nós é, sobretudo, de fazer o contrário: colocar-se em evidência (Ensinamentos de João Paulo I, p. 51-52). A humildade pode ser considerada o seu testamento espiritual. Graças justamente a essa sua virtude, foram suficientes 33 dias para que o Papa Luciani entrasse no coração das pessoas." (Angelus de 28 de setembro de 2008)
Uma das passagens do Evangelho preferidas do Papa João Paulo I era o apelo de Jesus: "Se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos céus":
""Devemos sentir-nos pequenos diante de Deus", disse naquela mesma audiência. E acrescentou: "Não me envergonho de sentir-me como uma criança diante da mãe: acredita-se na mãe, eu creio no Senhor, naquilo que Ele me revelou" (idem, 9.49). Essas palavras mostram toda a grandeza de sua fé. Ao tempo em que agradecemos ao Senhor por tê-lo dado à Igreja e ao mundo, aprendamos com o seu exemplo, esforçando-nos em cultivar a sua mesma humildade, que o tornou capaz de falar a todos, especialmente aos pequeninos e aos chamados distantes." (Angelus de 28 de setembro de 2008)
Por fim, Bento XVI recorda a devoção que Albino Luciani tinha por Nossa Senhora:
"Quando era Patriarca de Veneza chegou a escrever: "É impossível conceber a nossa vida, a vida da Igreja, sem o Terço, as festas marianas, os santuários marianos e as imagens de Nossa Senhora". É belo acolher esse seu convite e encontrar, como ele fez, na humilde consagração a Maria o segredo de uma cotidiana serenidade e de um compromisso concreto em favor da paz no mundo."


Fonte: Rádio Vaticano

IGREJA CELEBRA FESTA DOS ARCANJOS MIGUEL, GABRIEL E RAFAEL

Entre «os puros espíritos que também são denominados Anjos» (Credo do Povo de Deus), sobressaem três, que têm sido especialmente honrados, através dos séculos e a Liturgia une na mesma celebração. Além das funções próprias de todos os Anjos, eles aparecem, na Escritura Sagrada, incumbidos de missão especial.

São Gabriel (= «Deus é a minha força») é o mensageiro da Encarnação (Dn 9, 21-22). É o enviado das grandes embaixadas divinas: anuncia a Zacarias o nascimento do Precursor e revela a Maria o mistério da divina Maternidade. Pio XII, em 12 de Janeiro de 1951, declarou este Arcanjo patrono das telecomunicações.

São Miguel (= «Quem como Deus»?) é o príncipe dos Anjos, identificado, por vezes, como o Anjo do turíbulo de ouro de que fala o Apocalipse. É o Anjo dos supremos combates. É o melhor guia do cristão, na hora da viagem para a eternidade. É o protetor da Igreja de Deus (Ap 12-19).

São Rafael (= «Medicina de Deus») manifesta-se na Bíblia como diligente e eficaz protetor duma família, que se debate para não sucumbir às provações. É conselheiro, companheiro de viagem, defensor e médico.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

EVANGELHO SEGUNDO S. MATEUS 24,42-51.

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
12º sermão sobre o salmo 118; CSEL 62, 258 (a partir da trad. de Solesmes, Lectionnaire, vol. 3, p. 1035 rev)

«Estai preparados»
Bem-aventurado és tu quando Cristo bate à tua porta. A nossa porta é a fé que, se for sólida, defende toda a casa. É por essa porta que Cristo entra. É por isso que a Igreja diz, no Cântico dos Cânticos: «Chamam! É a voz do meu amado, batendo à porta». Escuta Aquele que bate, escuta Aquele que deseja entrar: «Abre, minha irmã e amiga, pomba incomparável! Tenho a cabeça coberta de orvalho, e os Meus cabelos das gotas da noite» (Ct 5, 2). Considera em que momento o Verbo de Deus bate à tua porta: quando já tem a cabeça coberta do orvalho da noite. Porque Ele digna-Se visitar aqueles que estão a ser submetidos à prova e às tentações, a fim de que ninguém sucumba, vencido pelas dificuldades. Por isso, a Sua cabeça fica coberta de orvalho, ou de gotas de água, quando o Seu corpo está a sofrer.
É nessa altura que é preciso estar vigilante, temendo que o Esposo venha e Se vá logo embora por encontrar a casa fechada. Com efeito, se adormeceres e se o teu coração não estiver vigilante (Ct 5, 2), Ele afastar-se-á sem chegar a bater; se o teu coração estiver desperto, Ele bate e pede que lhe abras a porta. Assim, dispomos da porta da alma e também das portas sobre as quais está escrito: «Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso». [Sl 24 (23), 7].

sábado, 21 de agosto de 2010

DIACONISAS: QUEM ERAM?

Em síntese: São Paulo e antigos documentos da Igreja referem-se a diaconisas. Eram mulheres de conduta irrepreensível chamadas a participar dos serviços que a Igreja prestava a pessoas do sexo feminino, principalmente por ocasião do Batismo (ministrado por imersão). Recebiam o seu ministério pela imposição das mãos do Bispo, que não conferia caráter sacramental. – Com a rarefação do Batismo de adultos, foi-se extinguindo a figura da diaconisa na Igreja a partir do século VI.

Pensando na promoção da mulher em nossos dias, há quem proponha seja ela chamada ao diaconato, como parece ter acontecido nos primeiros séculos da Igreja, quando havia diaconisas. Torna-se assim necessário investigar quem eram as diaconisas da Antigüidade.

1. Fundamentação bíblica

É São Paulo quem se refere às diaconisas em três passagens:

1.1. Rm 16, 1

O Apóstolo está em Corinto, onde escreve uma carta que a diaconisa Febe da vizinha cidade de Cencréia deverá levar a Roma. Recomenda-a nestes termos:

“Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos e lhe assistais em tudo de que precisar, porque também ela ajudou a muitos, a mim inclusive”.
O Apóstolo não fornece indicação alguma sobre o ministério diaconal de Febe.

1.2. 1Tm 3,11

“Também as mulheres devem ser respeitáveis, não maledicentes, sóbrias, fiéis em todas as coisas”.

O contexto mostra que São Paulo não fala das mulheres em geral, mas da categoria das diaconisas, que vêm a propósito na exortação dirigida aos diáconos Há quem prefira dizer que se trata aí das esposas dos diáconos – o que parece pouco provável, pois em tal caso o Apóstolo teria escrito: “As suas esposas…”

1.3. 1Tm 5, 9-11

“Uma mulher só será inscrita na categoria das viúvas com não menos de sessenta anos, se tiver sido esposa de um só marido, se tiver em seu favor o testemunho de suas boas obras, criado os filhos, sido hospitaleira, lavado os pés dos santos, socorrido os atribulados, aplicada a toda obra boa. Rejeita as viúvas mais jovens; quando os seus desejos se afastam do Cristo, querem casar-se, tornando-se censuráveis por terem rompido o seu primeiro compromisso”.

Pergunta-se se tais viúvas eram diaconisas. A resposta mais provável distingue-as; ao lado das diaconisas (para as quais não havia limite de idade), estariam viúvas de boa conduta auxiliando a Igreja em funções diversas.

Na tradição encontram-se as duas interpretações: ora viúvas e diaconisas são identificadas entre si, ora distintas umas das outras, sendo mais freqüente esta última sentença. Assim, por exemplo, se lê nas Constituições Apostólicas VI 17, obra datada do século IV:

“Seja assumida como diaconisa uma virgem pura ou ao menos uma viúva fiel honrada, que se tenha casado uma só vez”.
Ao passo que a diaconisa e instituída pela imposição das mãos, tal gesto não se aplica às viúvas; cf. ibid. VIII 24.

O apócrifo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo também distingue das diaconisas as viúvas: estas recebem a bênção d Bispo e as incumbências de louvar a Deus nos sábados e domingos, nas festas da Epifania, da Páscoa e Pentecostes, instruir as catecúmenas, visitar as enfermas, ungir as mulheres por ocasião do seu Batismo. – Para as diaconisas, resta como principal função levar a S. Eucaristia aos enfermos.
São estes traços entre outros, que levam a distinguir das diaconisas as viúvas.

2. A Tradição

O mais antigo testemunho é o de Plínio o Jovem, governador da Bitínia (Ásia Menor), que, tendo recebido a ordem de prender os cristãos em 112 escrevia ao imperador Trajano ter submetido à tortura duas cristãs honradas com o título de ministras (ministrae).

Cinqüenta anos mais tarde terá escrito o Papa Sotero (166-175) aos Bispos da Itália:

“Foi comunicado a esta Sé Apostólica que algumas mulheres consagradas a Deus e religiosas tomam a liberdade, nas vossas regiões, de tocar nos vasos sagrados e nas santas palas e de incensar o altar ao redor. Tal prática abusiva e digna de censura merece a rejeição de todo homem sábio.

Conseqüentemente, no exercício da autoridade desta Santa Sé ordenamos que essas coisas sejam radicalmente supressas dentro de um prazo mínimo e, a fim de que não se repitam, mandamos que quanto antes sejam banidas das vossas províncias” (citado pelo pseudo-Isidoro, Coletânea de leis do século IV).

3. Sacramento: sim ou não?

Para responder a tal pergunta, examinaremos a prece de investidura de uma diaconisa conforme as Constituições Apostólicas VIII 19s:

“Bispo, tu lhe imporás as mãos com a assistência do presbítero, dos diáconos e das diaconisas e dirás: Deus eterno, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Criador do homem e da mulher, Vós que enchestes com vosso espírito Maria, Débora, Ana e Holda, Vós que não quisestes deixar de fazer que o vosso Filho único nascesse de uma mulher, Vós que no tabernáculo da Aliança e no templo estabelecestes mulheres como guardiãs de vossas santas portas, lançai agora um olhar sobre vossa serva que aqui está, destinada ao diaconato. Dai-lhe o Espírito Santo, purificai-a de toda mancha corporal e espiritual, a fim de que exerça dignamente o ofício que lhe será confiado, para a glória vossa e o louvor do vosso Cristo com o qual e com o Espírito Santo Vos seja dada toda honra e adoração, santamente pelos séculos sem fim”.

Neste texto é importante a referência à imposição das mãos. Esta vem a ser um gesto polivalente, podendo significar transmissão de graça, de faculdades, de saúde, de bênção… ou a investidura de uma diaconisa não tem valor sacramental neste caso, pois nunca na Liturgia e no Direito antigo a diaconisa foi equiparada ao diácono; a contrario sempre lhe foram vedadas as funções do diácono e do presbítero, apesar das investidas para exercê-las. Observa S. Epifânio (+ 403):

“Se no Novo Testamento as mulheres fossem chamadas a exercer o sacerdócio ou algum outro ministério canônico, a Maria deveria ter sido confiado, em primeiro lugar, o ministério sacerdotal; Deus, porém, dispôs as coisas diversamente; não lhe conferiu nem mesmo a faculdade de batizar. Quanto à categoria das diaconisas, existente na Igreja, não foi destinada a cumprir funções sacerdotais ou outras similares. As diaconisas são chamadas a salvaguardar a decência que se impõem no tocante ao sexo feminino, seja cooperando na administração do sacramento do Batismo, seja examinando as mulheres afetadas por alguma enfermidade ou vítimas de violência, seja intervindo todas as vezes que se trate de descobrir o corpo de outras mulheres a fim de que o desnudamento não seja exposto aos olhares dos homens que executam as santas cerimônias, mas seja considerado unicamente pelo olhar das diaconisas” (Panarion LXXIX 3).

Como se vê, S. Epifânio, representando a tradição, vê nas diaconisas auxiliares no trato pastoral das mulheres. Tal ministério fica, portanto claramente distinto do ministério dos diáconos.

Ademais é de notar: o próprio São Paulo estima e recomenda a diaconisa Febe (Rm 16, 1), mas não queria que a mulher falasse em público na igreja (o que é incompatível com o diaconato propriamente dito). Ver 1Cor 14, 34s:

“Como acontece em todas as assembléias dos Santos estejam caladas as mulheres na Igreja, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas como diz também a Lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, interroguem os maridos em casa; não é conveniente que uma mulher fale nas assembléias”.

Em 1Tm 2, 11s volta a advertência:

“Durante a instrução a mulher conserve o silêncio com toda submissão. Não permito que a mulher ensine ou domine o homem”.

Quem escreveu tais sentenças, não teria tolerado ver uma diaconisa pregar o Evangelho. Não há dúvida as restrições feitas pelo Apóstolo às mulheres são a expressão de uma cultura já ultrapassada; hoje em dia não têm mais vigência; como quer que seja, contribuem para corroborar a interpretação que vê, antes do mais, nas diaconisas colaboradoras no serviço pastoral às mulheres.

Nem por isto a mulher é menos apreciada do que o homem por parte da Igreja. Tenha-se em vista as palavras do Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher nº 26s:

“É de notar que Cristo só chamou homens para serem seus Apóstolos. Fazendo isto, o Senhor agiu de maneira livre e soberana; não se creia que Jesus, assim procedendo tenha apenas procurado conformar-se à mentalidade discriminatória dominante em sua época; Ele não fazia accepção de pessoas (cf. Mt 22, 16). Em conseqüência somente os doze Apóstolos receberam o mandato: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19; 1Cor 11, 24). Somente eles na tarde da Ressurreição receberam o Espírito Santo para perdoar os pecados (cf. Jô 20, 22s). Daí se pode deduzir que o sacramento da Ordem, que perpetua a ação redentora de Cristo mediante seus ministros, é destinado aos homens apenas, como aliás já observou a Congregação para a Doutrina da Fé na Declaração Inter Insigniores de 15/10/76.

O Dom da Esposa

A mulher participa do sacerdócio universal de todos os fiéis, derivado dos sacramentos do Batismo e da Crisma. Assim todos têm parte na grande oblação que Cristo fez de Si mesmo ao Pai no Calvário e que Ele perpetua na Eucaristia.

Na Igreja o que valoriza alguém não é o seu grau hierárquico (embora tenha significado importante), mas é a santidade. O Concílio do Vaticano II recordou que na linha da santidade precisamente a mulher Maria de Nazaré é figura da Igreja Contemporaneamente a Maria e depois dela, numerosas mulheres – ao lado dos homens – se destacaram por sua santidade ou por seu amor esponsal a Cristo. Tais foram, entre outras: as mulheres que acompanhavam Jesus durante a sua vida mortal e estiveram presentes no Cenáculo de Pentecostes (cf. Lc 8, 1-3 At 1, 14; 2, 1-3); as mulheres que tiveram parte na vida da Igreja nascente (a diaconisa Febe, de Cêncreas, cf. Rm 16, 1; Prisca, cf. 2Tm 4, 19; Evódia e Síntique, cf. Fl 4, 2; Maria, Trifena, Pérside Trifosa cf. Rm 16, 6-12)… Em todas as épocas houve mulheres perfeitas (Pr 31, 10), que corajosamente participaram da missão da Igreja: Mônica mãe de Agostinho, Macrina, Olga de Kiev, Matilde da Toscana, Edviges da Silésia, Edviges de Cracóvia, Elisabete da Turíngia, Brígida da Suécia, Joana d’Arc, Rosa de Lima, Elisabete Seaton, Mary Ward… além das doutoras Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha de Lsieux.

Também em nossos dias a Igreja não cessa de enriquecer-se com o testemunho de numerosas mulheres que realizam a sua vocação à santidade. "As mulheres santas são uma personificação do ideal feminino e um modelo para todos os cristãos”.

Em poucas palavras: o que dá valor a alguém não é o cargo que ocupa, mas a santidade de vida que essa pessoa leva.

Em suma, tendo em vista ainda outros documentos da Tradição, pode-se dizer que as diaconisas exerciam funções concernentes às mulheres, especialmente por ocasião do Batismo, que era ministrado por imersão; era-lhes atribuído igualmente o encargo de atender aos pobres, aos peregrinos e aos enfermos, cujas casas elas visitavam; preparavam, outrossim, os cadáveres de mulheres para o sepultamento. Embora muito próximas dos diáconos, eram subordinados a estes; só podiam agir com a aprovação destes. Nas Constituições Apostólicas VIII 28 lê-se:

“A diaconisa não dá a bênção, nem faz o que fazem os presbíteros e os diáconos; apenas ela guarda as portas e, quando as mulheres são batizadas, ela assessora o sacerdote, tendo em vista a decência”.

Registraram-se no decorrer dos tempos tentativas de burlar tais normas. Daí os numerosos decretos pontifícios e conciliares que proíbem às mulheres fazer homilias no culto sagrado, o serviço do altar, a administração do sacramento do Batismo, Ver Didascalia III 5, 6 (obra do início do século III).

As diaconisas eram solteiras ou viúvas; não lhes era lícito casar-se.

Na medida em que foi declinado o costume de batizar adultos, foi também perdendo sua razão de ser o diaconato feminino; a partir do século VI no Ocidente foi-se extinguindo tal instituição; no Oriente a extinção foi mais lenta visto que aí as diaconisas gozavam de grande estima principalmente em Constantinopla. Famoso é o caso de Olimpíada no século IV: viúva aos dezoito anos de idade, recusou todas as propostas do imperador Teodósio; tornou-se amiga de São João Crisóstomo, que ela muito ajudou, compartilhando suas labutas e distribuindo aos pobres da diocese elevada quantia de dinheiro; foi-lhe solidária as tribulações, aceitando ser perseguida com ele reconfortou-o no exílio, vindo a falecer em 410, discípulas e colaboradoras de São João Crisóstomo foram também as diaconisas Prócula e Pentádia, a quem ele dirigiu várias cartas. Sejam citadas ainda Anastácia, que manteve intercâmbio epistolar com o Patriarca Severo de Antioquia; Macrina, irmã de São Basílio e São Gregório de Nissa (mulher tida como muito bela, que recusou quanto se lhe oferecia, para dedicar-se totalmente ao serviço do Senhor); tinha uma amiga chamada Lampádia, que lhe seguiu as pegadas. No século VI foi muito estimada a diaconisa Basilina.

Acontecia que as esposas de altos dignitários eclesiásticos eram obrigadas pelos cânones sagrados a receber o diaconato ou, ao menos, a não contrair novas núpcias em caso de viuvez (recebiam então o diaconato); tal foi o caso de Teosébia, esposa de S. Gregório de Nissa (que se casara com ela antes de receber o presbiterato).

Ultimamente têm-se realizado Cursos destinados a preparar mulheres para uma eventual ordenação.
– A Santa Sé, porém, declarou não terem propósito tais Cursos, visto que a Igreja não pensa em satisfazer a tal objetivo.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 500, Ano 2004, Página 76.

terça-feira, 13 de julho de 2010

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 10,24-33

Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Homília 20 sobre o salmo 118; CSEL 62, 467ss. (a partir da trad. do breviário)

Declarar-se por Cristo diante dos homens

Todos os dias podes ser testemunha de Cristo. Foste tentado pelo espírito da impureza, mas [...] pareceu-te que não devias macular a castidade do espírito e do corpo: és mártir, ou seja, testemunha de Cristo. [...] Foste tentado pelo espírito do orgulho, mas, vendo o pobre e o indigente, foste tomado de uma terna compaixão e preferiste a humildade à arrogância: és testemunha de Cristo. Mais que isso: não deste o teu testemunho apenas com palavras, mas também com obras.
Qual é o testemunho mais autêntico? «Todo o espírito que confessa Jesus Cristo, que veio em carne mortal» (1Jo 4, 2), e que observa os preceitos do Evangelho. [...] Quantos serão, em cada dia, estes mártires escondidos de Cristo, que confessam o Senhor Jesus! O apóstolo Paulo conheceu esse martírio e o testemunho de fé dado a Cristo, ele que disse: «Este é o nosso motivo de glória: o testemunho da nossa consciência» (2Cor 1, 12). Quantos confessam a fé exteriormente mas a negam interiormente! [...] Por conseguinte, sede fiéis e corajosos nas perseguições interiores, para triunfardes também nas perseguições exteriores. Também nas perseguições interiores há «reis e governadores», juízes de poder temível. Tendes o exemplo nas tentações sofridas pelo Senhor (Mt 4, 1ss.).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

OBSERVÂNCIA DAS NORMAS LITÚRGICAS E “ARS CELEBRANDI”

Coluna de teologia litúrgica dirigida por Mauro Gagliardi

Durante o Ano Sacerdotal, concluído há pouco, a coluna "Espírito da Liturgia" desenvolveu o tema "O sacerdote na Celebração eucarística", eleito com ocasião da coincidência, em 2009-2010, de diversos aniversários: o 150° da morte do Santo Cura d'Ars (1859), o 40º da promulgação do Missal de Paulo VI (1969) e o 440° do Missal de São Pio V (1570), que na edição aprovada pelo beato João XXIII (1962) representa a forma extraordinária do Rito Romano [1]. Daí a oportunidade de colocar em evidência a peculiar dignidade do sacerdócio ordenado, aprofundando a teologia e a espiritualidade da Santa Missa, particularmente na perspectiva do ministro que a celebra.
Neste último artigo, com o qual queremos também nos despedir de nossos leitores antes da pausa veraneia, queremos refletir com a brevidade costumeira sobre o tema do "ars celebrandi".

1. A situação no pós-Concílio

O Concílio Vaticano II ordenou uma reforma geral na sagrada liturgia [2]. Esta foi efetuada, após o encerramento do Concílio, por uma comissão chamada abreviadamente de Consilium [3]. É sabido que a reforma litúrgica foi desde o início objeto de críticas, às vezes radicais, como de exaltações, em certos casos excessivas. Não é nossa intenção nos deter neste problema. Podemos dizer em contrapartida que se está geralmente de acordo em observar um forte aumento dos abusos no campo celebrativo depois do Concílio. Também o Magistério recente tomou nota da situação e em muitos casos chamou à estrita observância das normas e das indicações litúrgicas. Por outro lado, as leis litúrgicas estabelecidas para a forma ordinária (ou de Paulo VI) - que, exceções à parte, celebra-se sempre e em todas partes na Igreja de hoje - são muito mais "abertas" em relação ao passado. Estas permitem muitas exceções e diversas aplicações, e preveem também múltiplos formulários para os diversos ritos (a pluriformidade inclusive aumenta na passagem da editio typica latina às versões nacionais). Apesar disso, um grande número de sacerdotes considera que tem de ampliar ulteriormente o espaço deixado à "criatividade", que se expressa, sobretudo com a frequente mudança de palavras ou de frases inteiras em relação às fixadas nos livros litúrgicos, com a inserção de "ritos" novos e frequentemente estranhos completamente à tradição litúrgica e teológica da Igreja e inclusive com o uso de vestimentas, utensílios sagrados e adornos nem sempre adequados e, em alguns casos, caindo inclusive no ridículo. O liturgista Cesare Giraudo resumiu a situação com estas palavras:

"Se antes [da reforma litúrgica] havia fixação, esclerose de formas, inaturalidade, que faziam a liturgia de então um ‘liturgia de ferro', hoje, há naturalidade e espontaneidade, sem dúvida sinceras, mas frequentemente confusas, mal entendidas, que fazem - ou ao menos correm o risco de fazer - da liturgia uma "liturgia de borracha", incerta, escorregadiça, que às vezes se expressa em uma ostentosa liberação de toda normativa escrita. [...] Esta espontaneidade mal entendida, que se identifica de fato com a improvisação, a falta de seriedade, a superficialidade, o permissivismo, é o novo ‘critério' que fascina inumeráveis agentes pastorais, sacerdotes e leigos.

[...] Por não falar também daqueles sacerdotes que, às vezes e em alguns lugares, arrogam-se o direito de utilizar pregações eucarísticas selvagens, ou de compor aqui ou ali seu texto ou partes dele" [4].

O Papa João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia, manifestou seu desgosto pelos abusos litúrgicos que acontecem frequentemente, particularmente na celebração da Santa Missa, já que a "Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e diminuições" [5]. Ele acrescentou:

"Temos a lamentar, infelizmente, que, sobretudo a partir dos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos. Uma certa reação contra o «formalismo» levou alguns, especialmente em determinadas regiões, a considerarem não obrigatórias as «formas» escolhidas pela grande tradição litúrgica da Igreja e do seu magistério e a introduzirem inovações não autorizadas e muitas vezes completamente impróprias. Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios." [6].

2. Causas e efeitos do fenômeno

O fenômeno da "desobediência litúrgica" estendeu-se de tal forma, por número e em certos casos também por gravidade, que se formou em muitos uma mentalidade pela qual na liturgia, salvando as palavras da consagração eucarística, se poderiam dar todas as modificações consideradas "pastoralmente" oportunas pelo sacerdote ou pela comunidade. Esta situação induziu o próprio João Paulo II a pedir à Congregação para o Culto Divino que preparasse uma Instrução disciplinar sobre a Celebração da Eucaristia, publicada com o título de Redemptionis Sacramentum, a 25 de março de 2004. Na citação antes reproduzida da Ecclesia de Eucharistia, indicava-se na reação ao formalismo uma das causas da "desobediência litúrgica" de nosso tempo. A Redemptionis Sacramentum assinala outras causas, entre elas um falso conceito de liberdade [7] e a ignorância. Esta última em particular se refere não só ao conhecimento das normas, mas também a uma compreensão deficiente do valor histórico e teológico de muitos textos eucológicos e ritos: "Finalmente, os abusos se fundamentam com frequência na ignorância, já que quase sempre se rejeita aquilo que não se compreende seu sentido mais profundo e sua Antiguidade" [8].

Introduzindo o tema da fidelidade às normas em uma compreensão teológica e histórica, ademais de no contexto da eclesiologia de comunhão, a Instrução afirma: “O Mistério da Eucaristia é demasiado grande «para que alguém possa permitir tratá-lo ao seu arbítrio pessoal, pois não respeitaria nem seu caráter sagrado, nem sua dimensão universal» [...] Os atos arbitrários não beneficiam a verdadeira renovação e sim lesionam o verdadeiro direito dos fiéis à ação litúrgica, à expressão da vida da Igreja, de acordo com sua tradição e disciplina. Além disso, introduzem na mesma celebração da Eucaristia elementos de discórdia e de deformação, quando ela tem, por sua própria natureza e de forma eminente, de significar e de realizar admiravelmente a Comunhão com a vida divina e a unidade do povo de Deus. Estes atos arbitrários causam incerteza na doutrina, dúvida e escândalo para o povo de Deus e, quase inevitavelmente, uma violenta repugnância que confunde e aflige com força a muitos fiéis em nossos tempos, em que frequentemente a vida cristã sofre o ambiente, muito difícil, da «secularização»”.

Por outra parte, todos os fiéis cristãos gozam do direito de celebrar uma liturgia verdadeira, especialmente a celebração da santa Missa, que seja tal como a Igreja tem querido e estabelecido, como está prescrito nos livros litúrgicos e nas outras leis e normas. Além disso, o povo católico tem direito a que se celebre por ele, de forma íntegra, o santo Sacrifício da Missa, conforme toda a essência do Magistério da Igreja. Finalmente, a comunidade católica tem direito a que de tal modo se realize para ela a celebração da Santíssima Eucaristia, que apareça verdadeiramente como sacramento de unidade, excluindo absolutamente todos os defeitos e gestos que possam manifestar divisões e facções na Igreja." [9]

Particularmente significativo neste texto é o chamado ao direito dos fiéis de terem a liturgia celebrada segundo as normas universais da Igreja, além de sublinhar o fato de que as transformações e modificações da liturgia - ainda que se façam por motivos "pastorais" - não têm na realidade um efeito positivo neste campo; ao contrário, confundem, turbam, cansam e podem inclusive fazer os fiéis se afastarem da prática religiosa.

3. O ars celebrandi

Eis aqui os motivos pelos quais o Magistério nas últimas quatro décadas recordou várias vezes aos sacerdotes a importância do ars celebrandi, o qual - se bem não consiste apenas na perfeita execução dos ritos de acordo com os livros, mas também e, sobretudo no espírito de fé e adoração com os que estes se celebram - não se pode no entanto realizar se se afasta das normas fixadas para a celebração [10]. Assim o expressa por exemplo o Santo Padre Bento XVI: "O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa (actuosa participatio). Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa" [11].

Recordando estes aspectos, não se deve cair no erro de esquecer os frutos positivos produzidos pelo movimento de renovação litúrgica. O problema assinalado, contudo, subsiste e é importante que a solução ao mesmo parta dos sacerdotes, os quais devem se empenhar antes de tudo em conhecer de maneira aprofundada os livros litúrgicos, e também a pôr fielmente em prática suas prescrições. Só o conhecimento das leis litúrgicas e o desejo de se ater estritamente a elas impedirá ulteriores abusos e "inovações" arbitrárias que, se no momento podem talvez emocionar os presentes, na realidade acabam logo por cansar e defraudar. Salvas as melhores intenções de quem as comete, depois de quarenta anos de experiência na questão, a "desobediência litúrgica" não constrói de fato comunidades cristãs melhores, mas, ao contrário, põe em risco a solidez de sua fé e de sua pertença à unidade da Igreja Católica. Não se pode utilizar o caráter mais "aberto" das novas normas litúrgicas como pretexto para desnaturalizar o culto público da Igreja:

"As novas normas simplificaram muito as fórmulas, os gestos, os atos litúrgicos [...] Mas neste campo não se deve ir além do estabelecido: de fato, procedendo assim, se despojaria a liturgia dos sinais sagrados e de sua beleza, que são necessários, para que se realize verdadeiramente na comunidade cristã o mistério da salvação e seja compreendido também, sob o véu das realidades visíveis, através de uma catequese apropriada. A reforma litúrgica de fato não é sinônimo de dessacralização, nem quer ser motivo para esse fenômeno que chamam de a secularização do mundo. É necessário por isso conservar nos ritos dignidade, seriedade, sacralidade" [12].

Entre as graças que esperamos poder obter da celebração do Ano Sacerdotal está, portanto também a de uma verdadeira renovação litúrgica no seio da Igreja, para que a sagrada liturgia seja compreendida e vivida pelo que esta é na realidade: o culto público e integral do Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros, culto de adoração que glorifica a Deus e santifica os homens [13].

Notas

[1] Cf. M. Gagliardi, "O sacerdote na Celebração eucarística", Zenit 13.11.2009: http://www.zenit.org/article-23282?l=portuguese
[2] Cf. Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, n. 21.
[3] Abreviação de Consilium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia.
[4] C. Giraudo, "La costituzione 'Sacrosanctum Concilium': il primo grande dono del Vaticano II", en La Civiltà Cattolica (2003/IV), pp. 532; 531.
[5] João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 10.
[6] Ibid., n. 52. Cf. também Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, n. 28.
[7] "Não é estranho que os abusos tenham sua origem em um falso conceito de liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em Cristo, não uma falsa liberdade para fazer o que queremos, mas sim a liberdade para que possamos realizar o que é digno e justo": Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Redemptionis Sacramentum, n. 7.
[8] Ibid., n. 9.
[9] Ibid., nn. 11-12.
[10] Sagrada Congregação dos Ritos, Eucharisticum Mysterium, n. 20: "Para favorecer o correto desenvolvimento da celebração sagrada e a participação ativa dos fiéis, os ministros não devem apenas limitar-se a realizar seu serviço com exatidão, segundo as leis litúrgicas, mas devem comportar-se de forma que inculquem, por meio deste, o sentido das coisas sagradas"
[11] Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 38. Veja-se o n. 40, que desenvolve adequadamente o conceito.
[12] Sagrada Congregação para o Culto Divino, Liturgicae instaurationes, n. 1. O texto continua: "A eficácia das ações litúrgicas não está na busca contínua de novidades rituais, ou de simplicações ulteriores, mas no aprofundamento da palavra de Deus e do mistério celebrado, cuja presença está assegurada pela observância dos ritos da Igreja e não dos impostos pelo gosto pessoal de cada sacerdote. Tenha-se presente, ademais, que a imposição de reconstruções pessoais dos ritos sagrados por parte do sacerdote ofende a dignidade dos fiéis e abre caminho para o individualismo e o personalismo na celebração de ações que diretamente pertencem a toda Igreja".
[13] Cf. Pio XII, Mediator Dei, I, 1; Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, n. 7.

[Tradução de Alexandre Ribeiro] - ROMA, domingo, 11 de julho de 2010.


Fonte: Zenit

terça-feira, 6 de julho de 2010

BREVE REFLEXÃO SOBRE O DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (REGIÃO NORTE II) EM VISITA "AD LIMINA"

“[...] é fundamental, nos itinerários de educação à fé, "se destaque que no sacramento da Eucaristia Cristo é verdadeiramente, realmente e substancialmente presente."
Com estas palavras o papa Bento XVI, na ultima 3ª. Feira – 15/06/2010 - abriu na Basílica romana de São João de Latrão, o congresso da diocese de Roma dedicado à Eucaristia dominical e ao testemunho da caridade.
Permito-me utilizar da palavra do Sucessor de Pedro para melhor identificar nossa posição de maneira adequada e contextualizada ante os anseios de nossos dias. O Povo de Deus reunido em torno da mesa, em um colóquio sobre o tema: “A caminhada da Pastoral Afro na Região Brasilândia”, oferece-nos o conviver com o Cristo Ressuscitado e sempre presente.
Presença sentida no irmão excluído e segregado, no pobre discriminado, no próximo tão distante, na família, no trabalho, na comunidade, nos sacramentos, nos sacramentais, na liturgia, na Eucaristia. E a celebração da Eucaristia, como explicou Bento XVI, é encontro com esse Cristo Ressuscitado "presente no nosso hoje", nos impõe e, "ao mesmo tempo nos torna capazes de nos tornar, por nossa vez, pão partido para os nossos irmãos, vindo ao encontro de suas exigências e doando nós mesmos". Por isso, uma celebração eucarística que não conduz a encontrar os homens ali onde vivem, trabalham e sofrem, para oferecer-lhes o amor de Deus, não manifesta a verdade que encerra.
A partir do Concilio Vaticano II, e da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (37-40), teve principio a inculturação da liturgia cristã, após mil anos de uma rigidez litúrgica, fez com que diversas comunidades incorressem em erros e distúrbios no processo de inculturação dos ritos litúrgicos romanos. O processo de inculturação requer um conhecimento aprofundado dos aspectos sociológicos, psicológicos e antropológicos dos grupos étnicos e das pessoas.
O cerne da inculturação é a conjugação de grupos étnicos ao redor de suas tradições culturais, religiosos e folclóricos; e da teologia litúrgica que elabora uma releitura nas tradições culturais e religiosas do povo, assimilando a religiosidade local, sem se esquecer das orientações teológicas e do magistério da Igreja. Fundamentos e orientações teológicas e litúrgicas que encontramos na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (37-40) esclarecem que a Igreja não pretende impor uma forma rígida para os ritos, mas deseja cultivar elementos e valores dos diversos povos, valorizando seus costumes, sempre atento a purificação de superstições e erros doutrinais de acordo com normas do espírito litúrgico.
Devemos estar atentos no resguardo da unidade substancial do Rito Romano, sem nos esquecermos de nos aprofundarmos liturgicamente para programar adaptações, renovações nas rubricas e na reestruturação dos ritos. Importância também relevante é o estudo das estruturas culturais, bens de vida humana compreendida a partir de conjunto de valores, organização de temas, institucionalização da postura da comunidade ante ao modelo apresentado e ao elemento cultural a ser assimilado e/ou adaptado.
No que tocante às adaptações litúrgicas devem ser obedecidos critérios de fé, de eclesiologia, de antropologia e de liturgia. Devemos sempre nos ater a similaridade de conceitos como inculturação e adaptação, pois elas são distintas e ao mesmo tempo interligadas. Os princípios fundamentais a uma ação inculturada requerem uma identificação antropológico-teológica, sem absolutizar uma cultura e nem impor a outra; a manutenção da unidade da fé católica e o anuncio do Evangelho.
Alicerçados pelo Documento de Aparecida (99b) que diz:
“A renovação litúrgica acentuou a dimensão celebrativa e festiva da fé cristã centrada no mistério pascal de Cristo Salvador, em particular na Eucaristia. Crescem as manifestações da religiosidade popular, especialmente a piedade eucarística e a devoção mariana. Esforços têm sido realizados para inculturar a liturgia nos povos indígenas e afro-americanos. Estão sendo superados os riscos de reduzir a Igreja a sujeito político, com um melhor discernimento dos impactos sedutores das ideologias. Têm-se fortalecido a responsabilidade e a vigilância com relação às verdades da Fé, ganhando em profundidade e serenidade de comunhão.”
E para tanto, somos chamados ao compromisso de oferecer o Evangelho de Jesus Cristo com o testemunho de nossas vidas, no conhecimento antropológico das comunidades, na reflexão teológica, na universalidade própria do ser católico, na promoção dos povos de diferentes culturas e seus valores. Acima de tudo seja a manifestação do mistério pascal da fé cristã, nas celebrações litúrgicas, o centro e o cerne.
O papa João Paulo II também se pronunciou aos bispos brasileiros da Conferência dos Bispos do Brasil – Regional Nordeste III em visita “ad limina apostolorum” (29/09/1995) de modo mais contundente que agora seu sucessor o faz:
“[...] Como compreenderão, o respeito pelas diversas culturas e a correspondente inculturação evangélica aborda questões que merecem um destaque a parte. Não é possível, contudo, descurar aqui a consideração da cultura afro-brasileira no quadro mais amplo da evangelização “ad gentes”, e que hoje é bem presente na reflexão teológica e pastoral de vossas Igrejas particulares em terras do Brasil. Trata-se da delicada questão da aculturação, de modo especial dos ritos litúrgicos, ao vocabulário, às expressões musicais e corporais típicas da cultura afro-brasileira. Sobre este tema tão complexo gostaria de tecer algumas considerações. [...] ”
E suas considerações nos proporcionaram uma forte reflexão em nossa caminhada de fé. Analisamos, estudamos, verificamos, propomos, contudo as portas de uma liturgia inculturada (e não aculturada) requerem um trabalho mais adequado às solicitações e anseios de nossas comunidades. Devemos estar sempre a disposição de nossos irmãos e irmãs, na formação, na orientação e na elucidação de temas e posturas mais complexas, de nossas celebrações, ante a humildade e simplicidade de nosso povo.
Cristo Ressuscitado é quem surge e brilha através da Celebração Eucarística, pois sua missão, e a do Espírito Santo é a de anunciar, atualizar e comunicar o Mistério da Salvação. Que a nossa assembléia, na Celebração Eucarística seja de testemunho e crença, de formação capaz de abranger toda a riqueza dada a nos, membros da Igreja Universal (Católica).

sexta-feira, 25 de junho de 2010

PORTO: 70 CANDIDATOS AO DIACONADO PERMANENTE

Conselho Presbiteral da Diocese fala no surgimento de novas oportunidades e desafios

A Diocese do Porto tem mais de 70 candidatos em processo de “discernimento e formação” para o diaconado permanente, estando prevista para 8 de Dezembro próximo a ordenação de um primeiro grupo de 17 diáconos e cerca de 30 no ano seguinte. Uma nova realidade que mereceu particular atenção na última reunião do Conselho Presbiteral da Diocese, em final de mandato trienal.
Segundo comunicado enviado à Agência ECCLESIA, “é preciso preparar a melhor integração dos novos Diáconos no exercício do ministério pastoral e na vida das comunidades cristãs”.
“O impacto desta novidade refletir-se-á de forma inelutável em toda a orgânica ministerial da Igreja Portucalense”, pode ler-se.
“Se, para os próximos anos, se prevê a ordenação de cerca de 70 candidatos, teremos efetivamente uma situação nova que vai obrigar a hábitos novos a todos os níveis. Novos espaços e oportunidades de comunhão, partilha e coordenação vão surgir”, acrescenta o documento.
O diaconado permanente, restaurado pelo Concílio Vaticano II há mais de 40 anos, é o primeiro grau do sacramento da Ordem, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), ao contrário do que acontece com o sacerdócio. Os diáconos distinguem-se, segundo a doutrina da Igreja, pela “dedicação às obras de caridade e de assistência” e na animação de comunidades ou sectores da vida eclesial, presidindo também à celebração de alguns sacramentos.
Em Julho de 2007, D. Manuel Clemente enviou uma com a carta aos párocos da Diocese do Porto, convidando-os a apresentar candidatos e apontando os critérios a ter em conta na escolha dos mesmos. Neste momento, há 14 diáconos permanentes, um número em crescimento e que, segundo o Conselho Presbiteral da Diocese, deve levar a mudar uma visão “na perspectiva da sua utilidade e por referência aos presbíteros cuja escassez, de algum modo, poderão compensar”.
“Há que superar essa perspectiva redutora e entender e acolher os diáconos na perspectiva sacramental, como sinais sacramentais vivos de Cristo Servo”, refere o comunicado.
Nesse sentido, os padres do Porto admitem que em relação aos diáconos permanentes “persistem, de parte a parte, inquietações que se relacionam, sobretudo com a afirmação da sua identidade ministerial, radicada no Sacramento, e na necessidade de estabelecer em bases seguras um salutar relacionamento com os presbíteros e com as comunidades”.
Também foi objeto de debate o propósito de edificar o Seminário Redemptoris Mater do Caminho Neocatecumenal em espaços atualmente do Seminário do Bom Pastor (diocesano).
“O respeito pela distinção das instituições e a conveniência de acautelar a diferença dos carismas sugere a procura, em diálogo aberto, de outras soluções igualmente viáveis”, indica o Conselho Presbiteral da Diocese do Porto.

Fonte: Agência Ecclesia

sábado, 5 de junho de 2010

PAPA FALA SOBRE SANTO TOMÁS DE AQUINO: CATEQUESE DE QUARTA-FEIRA (02/06/2010)

Caros irmãos e irmãs,
depois de algumas catequeses sobre o sacerdócio e de minhas últimas viagens, retornamos hoje ao nosso tema principal, isto é, à meditação sobre alguns dos grandes pensadores da Idade Média. Havíamos visto, na última vez, a grande figura de São Boaventura, franciscano, e hoje desejo falar daquele que a Igreja chama Doctor communis: isto é, Santo Tomás de Aquino. O meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, na sua Encíclica Fides et ratio, recordou que Santo Tomás “foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer teologia” (n. 43). Não surpreende que, depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, Santo Tomás venha citado mais que qualquer outro, precisamente sessenta e uma vezes! Ele foi chamado também Doctor Angelicus, provavelmente por suas virtudes, em particular a sublimidade do pensamento e a pureza de vida.
Tomás nasceu entre 1224 e 1225 no castelo que a sua família, nobre e abastada, possuía em Roccasecca, nas proximidades de Aquino, vizinho à célebre abadia de Montecassino, aonde foi enviado pelos pais a fim de receber os primeiros elementos de sua instrução. Alguns anos depois se transferiu para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II fundara uma prestigiosa universidade. Ali era ensinado, sem as limitações vigentes alhures, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, no qual o jovem Tomás foi introduzido, e cujo grande valor subitamente intuiu. Mas, sobretudo, naqueles anos transcorridos em Nápoles, nasceu a sua vocação dominicana. Tomás foi, na verdade, atraído pelo ideal da Ordem fundada poucos anos antes por São Domingos. Todavia, quando revestiu o hábito dominicano, a sua família se opôs a esta escolha e ele foi constrangido a deixar o convento e a passar algum tempo com a família.
Em 1245, já maior de idade, pode retomar o seu caminho de resposta ao chamado de Deus. Foi enviado a Paris para estudar teologia sob a direção de um outro santo, Alberto Magno, sobre o qual falei recentemente. Alberto e Tomás cultivaram uma verdadeira e profunda amizade e aprenderam a estimar-se e a se querer bem, a ponto de Santo Alberto querer que seu discípulo o seguisse a Colônia, aonde o próprio Alberto fora enviado pelos Superiores da Ordem a fundar uma escola de teologia. Tomás teve então contato com todas as obras de Aristóteles e de seus comentadores árabes, que Alberto esclarecia e explicava.
Naquele período, a cultura do mundo latino fora profundamente estimulada pelo encontro com as obras de Aristóteles, que permaneceram desconhecidas por muito tempo. Tratava-se de escritos sobre a natureza do conhecimento, sobre ciências naturais, sobre metafísica, sobre a alma e sobre a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo desenvolvida sem Cristo e antes d’Ele, somente com a razão, e parecia impor-se à razão como “a” própria visão; despertava, pois, um incrível fascínio nos jovens ver e conhecer esta filosofia. Muitos acolheram com entusiasmo, até mesmo com entusiasmo acrítico, esta enorme bagagem do saber antigo, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir totalmente novos horizontes. Outros, porém, temiam que o pensamento pagão de Aristóteles estivesse em oposição à fé cristã e se recusavam a estudá-lo. Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua radical racionalidade, e a clássica cultura cristã. Certos ambientes foram levados à rejeição de Aristóteles também pela apresentação que de tal filósofo fora feita pelos comentadores árabes Avicena e Averróis. De fato, foram eles que transmitiram ao mundo latino a filosofia aristotélica. Por exemplo, estes comentadores haviam ensinado que os homens não dispõem de uma inteligência pessoal, mas que neles há um único intelecto universal, uma substância espiritual comum a todos, que opera em todos como “única”: portanto uma despersonalização do homem. Um outro ponto discutível veiculado pelos comentadores árabes era aquele segundo o qual o mundo é eterno como Deus. Compreensivelmente surgiram, no mundo universitário e no eclesiástico, disputas sem fim. A filosofia aristotélica estava sendo difundida inclusive entre o povo simples.
Tomás de Aquino, na escola de Alberto Magno, desenvolveu uma operação de fundamental importância para a história da filosofia e da teologia, eu diria, para a história da cultura: estudou a fundo Aristóteles e os seus intérpretes, buscando novas traduções latinas dos textos originais gregos. Assim não se apoiava mais somente nos comentadores árabes, mas podia ler pessoalmente os textos originais, e comentou grande parte das obras aristotélicas, distinguindo nelas o que era válido daquilo que era dúbio ou que devesse ser recusado totalmente, mostrando a consonância com os dados da Revelação cristã e utilizando ampla e agudamente o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que compôs. Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão existe uma natural harmonia. E esta foi a grande obra de Tomás, que naquele momento de conflito entre duas culturas – momento no qual parecia que a fé devia dobrar-se diante da razão – mostrou que ambas caminham juntas, que quando aparecia uma razão não compatível com a fé não era razão, e quando aparecia uma fé não era fé, enquanto oposta a uma verdadeira racionalidade; assim ele criou uma nova síntese que formou a cultura dos séculos seguintes.
Por seus excelentes dotes intelectuais, Tomás foi chamado a Paris como professor de teologia na cátedra dominicana. Ali também deu início a sua produção literária, que prosseguiu até a morte, e que há algo de prodigioso: comentários à Sagrada Escritura, porque o professor de teologia era sobretudo intérprete da Escritura, comentários aos escritos de Aristóteles, obras sistemáticas poderosas, entre as quais se destaca a Summa Theologiae, tratados e discursos sobre vários temas. Para a composição de seus escritos era coadjuvado por alguns secretários, entre os quais o confrade Reginaldo de Piperno, que o seguiu fielmente e ao qual se ligou por uma profunda e sincera amizade, caracterizada por uma grande familiaridade e confiança. Esta é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque ela é uma das manifestações mais nobres do coração humano e que tem em si algo de divino, como o próprio Tomás explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual escreve: “A caridade é a amizade do homem com Deus principalmente, e com os seres que a Ele pertencem” (II, q. 23, a. 1).
Não permanece muito tempo e estavelmente em Paris. Em 1259 participou do Capítulo Geral dos Dominicanos em Valenciennes, onde foi membro de uma comissão que estabeleceu o programa de estudos na Ordem. Depois, de 1261 a 1265, Tomás estava em Orvieto. O Papa Urbano IV, que nutria por ele uma grande estima, lhe confiou a composição dos textos litúrgicos para a festa de Corpus Christi, que celebramos amanhã, instituída em seguida ao milagre eucarístico de Bolsena. Tomás teve uma alma autenticamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença rela do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica. De 1265 até 1268 Tomás residiu em Roma, onde, provavelmente, dirigia um Studium, isto é, uma Casa de estudos da Ordem, e onde começou a escrever a sua Summa Theologiae (cf. Jean-Pierre Torrell, Tommaso d’Aquino. L’uomo e il teologo, Casale Monf., 1994, pp. 118-184).
Em 1269 foi novamente chamado a Paris para um segundo ciclo de magistério. Os estudantes – compreende-se bem – eram entusiastas de suas aulas. Um ex-aluno seu declarou que uma grande multidão de estudantes seguia os cursos de Tomás, tanto que as salas mal podiam comportá-los e acrescentava, com uma anotação pessoal, que “escutá-lo era para ele uma felicidade profunda”. A interpretação de Aristóteles dada por Tomás não era aceita por todos, mas mesmo os seus adversários no campo acadêmico, como Godofredo de Fontaines, por exemplo, admitiam que a doutrina de frei Tomás fosse superior às outras por utilidade e valor e servia como corretivo às de todos os outros doutores. Talvez também a fim de subtraí-lo às intensas discussões em curso, os Superiores o enviaram uma vez mais a Nápoles, à disposição do rei Carlos I, que pretendia reorganizar os estudos universitários.
Além do estudo e do ensino, Tomás se dedicou também à pregação ao povo. E também o povo, de boa vontade, ia escutá-lo. Eu diria que é verdadeiramente uma grande graça quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. O ministério da pregação, por outro lado, ajuda os próprios estudiosos de teologia com um saudável realismo pastoral, e enriquece de vivos estímulos suas pesquisas.
Os últimos meses de vida terrena de Tomás permanecem circundados por uma atmosfera particular, diria até misteriosa. Em dezembro de 1273 chamou o seu amigo e secretário Reginaldo para comunicar-lhe a decisão de interromper todo trabalho, porque, durante a celebração da Missa, havia compreendido, em seguida a uma revelação sobrenatural, que tudo quanto havia escrito até então era somente “um monte de palha”. É um episódio misterioso que nos ajuda a compreender não somente a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo aquilo que conseguimos pensar e dizer sobre a fé, não obstante elevado e puro, é infinitamente superado pela grandeza e pela beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso. Alguns meses depois, sempre mais absorvido em uma profunda meditação, Tomás morreu enquanto viajava para Lyon, para onde se dirigia a fim de tomar parte no Concílio Ecumênico convocado pelo Papa Gregório X. Expirou na Abadia cisterciense de Fossanova, depois de ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.
A vida e a doutrina de Santo Tomás de Aquino se poderia resumir em um episódio transmitido pelos antigos biógrafos. Enquanto o Santo, como seu costume, estava em oração diante do Crucifixo, logo pela manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingos de Caserta, o sacristão da igreja, ouviu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se tudo o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo responde: “Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, queremos sempre dar-lhe: “Nada além de Ti, Senhor!” (Ibid., p. 320).
BENEDICTUS PP. XVI
Fonte: Santa Sé

sábado, 22 de maio de 2010

OS PADRES CASADOS DA IGREJA CATÓLICA

Sob as bênçãos do Vaticano, os diáconos assumem paróquias e celebram batizados e casamentos. Depois, voltam para casa, junto da mulher e dos filhos.

SAGRADA FAMÍLIA
Ailton em sua paróquia, em Santana (SP), com o filho Guilherme e a mulher, Isabel: “Minha vocação é o matrimônio, mas como diácono posso ajudar ainda mais a Igreja”

No dia 24 de abril, o professor de geografia Wainer Fracaro da Silva, 37 anos, casado e pai de três filhos, recebeu das mãos do cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, em plena Catedral da Sé, a ordenação da Igreja Católica. A partir daquela data, teve autorização oficial para assumir uma paróquia, realizar batizados e casamentos, aconselhar fiéis e até usar batina. Não, não estamos diante do primeiro caso da história de homem casado que se tornou padre. Silva faz parte, sim, de um grupo ainda pouco conhecido que se avoluma pelo mundo e tem sido uma alternativa em tempos de crise de vocações e falta de pastores. Só para falar da mais amena das crises que a Igreja enfrenta no momento. Ao participarem do ritual em missa solene, após cinco anos de intensos estudos, homens como o professor paulistano tornam-se diáconos permanentes. Naquele mesmo sábado de abril, outros 12 fizeram seus votos. Em uma Igreja na qual o celibato é regra sempre questionada – ainda mais quando surgem casos polêmicos, como os de pedofilia, que tiram o sono do papa Bento XVI nos últimos meses –, ter um homem casado na hierarquia da instituição soa como um avanço. Mas, afinal, quem é e o que faz um diácono permanente? Eles são católicos praticantes comuns que se candidatam à vaga porque desejam servir ainda mais à sua religião, mas sem abrir mão do matrimônio e a união deve ter pelo menos dez anos. Uma vez casados e com família, devem conciliar suas funções na Igreja com a vida profissional e matrimonial, pois não recebem um tostão para servir a Santa Madre. Solteiros e viúvos também podem ser diáconos, desde que assumam o celibato. Casados que se tornam viúvos não podem se casar de novo. Mas podem se tornar padres, se assim o desejarem. “A Igreja ordena pessoas casadas, mas não casa pessoas ordenadas”, resume o engenheiro Odélcio Calligaris, 63 anos, presidente da Comissão Nacional de Diáconos (CND), casado há 30 anos, pai de dois filhos e religioso desde 1993.

UNIÃO

Wainer, da igreja Menino Deus (SP), teve total apoio da esposa, Edileuza, e dos três filhos: Matheus, Esther e Deborah

Mas não basta ser temente a Deus e cumpridor dos deveres cristãos para se tornar um diácono. É preciso ter ao menos 35 anos, ser casado há dez, estudar teologia e fazer um curso em uma escola diaconal – a CND calcula que existam 90 centros desse tipo no País. O programa tem cinco anos de duração e abrange disciplinas de teologia e oficinas práticas de liturgia e caridade. A esposa do aspirante a diácono também precisa assinar uma carta de próprio punho ao bispo responsável autorizando a escolha. No momento da ordenação, ele faz o voto de obediência – pobreza e castidade ficam de fora por razões óbvias.

No dia a dia da igreja, esses homens são quase padres. “Nós somos ordenados para a liturgia, para a palavra e para a caridade”, explica o corretor de seguros Ailton Machado Mendes, 48 anos, casado há 25 anos, dois filhos, que serve a igreja como tal desde 2005. Na prática, isso significa que podem fazer quase tudo o que um sacerdote faz, exceto a consagração da hóstia e absolvição dos pecados, os sacramentos da eucaristia e da confissão. O diaconato foi a maneira que o recém-ordenado Silva encontrou para atender a um chamado que apareceu ainda na adolescência. O professor de geografia chegou a considerar a possibilidade de ser padre. “Só que eu tinha também um forte desejo de me casar e constituir família”, diz. Como diácono, conseguiu suprir ambos os anseios. “O sacramento do matrimônio e da ordem não se anulam, pelo contrário, um fortalece o outro.” Mendes também vê dessa forma. “Minha vocação é o matrimônio, mas como diácono posso ajudar ainda mais a Igreja.” Calligaris tem uma boa definição sobre ser diácono. “Temos um pé no clero e outro no mundo, o que permite que façamos uma ponte entre Igreja e sociedade.”

BÊNÇÃO NA CATEDRAL
Os 13 novos diáconos de São Paulo no dia da ordenação

Apesar de o diaconato ter sido oficializado há menos de 50 anos, durante o Concílio Vaticano II (1962-65), reunião de bispos do mundo todo que modernizou vários setores da Igreja, os diáconos existem desde os primórdios do cristianismo. Estão lá, no Novo Testamento, em Atos 6, 1-6. Na passagem, são citados os sete primeiros, escolhidos pelos apóstolos para cuidar das viúvas abandonadas à própria sorte. Continuaram em ação até o século V, quando, por razão não conhecida, caíram no esquecimento. Só foram resgatados pelo papa Paulo VI, após o encontro episcopal. “Por pouco essa questão não passa no Concílio”, conta o padre José Oscar Beozzo, professor do Instituto Teológico de São Paulo (Itesp). “Existia um temor de que, ao abrir essa brecha, a Igreja acabaria cedendo demais.”

Talvez por isso foram necessárias algumas décadas até que o diácono virasse uma realidade nas paróquias brasileiras. “Vai de cada bispo o desejo de ter em sua diocese o diácono permanente”, explica Calligaris, da CND. Daí a função só ter sido liberada na cidade de São Paulo em 2000. Já em lugares como Jundiaí (SP) e Apucarana (PR), o diaconato já é considerado uma tradição.

O alto clero vê o crescimento desse grupo com bons olhos. “A retomada desse ministério é uma grande riqueza para nós”, diz dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro. “Afinal, a comunidade paroquial é fonte de vocações de homens que estão dispostos a uma doação mais radical e profunda pela causa do Evangelho.” Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Teresina (PI), lembra que o diácono é um evangelizador em potencial, já que está, como profissional, dentro das fábricas, universidades e empresas. “Ele é diácono 24 horas por dia. O jeito dele de ser e de viver é a sua forma de evangelizar.”

Com as bênçãos do Vaticano, o número de diáconos vem crescendo a cada ano. Existem cerca de 35 mil no mundo. No Brasil, são dois mil. Mas, apesar de significarem um sopro de renovação na milenar instituição religiosa, eles foram regulamentados com o cuidado de não infringir preceitos dos quais a Igreja não abre mão, como a exclusão das mulheres. “A Igreja continua excluindo os homens casados das funções mais importantes, impedindo-os de se tornar sacerdotes de fato, e segue deixando as mulheres de fora”, afirma a professora de sociologia da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Maria José Rosado. Já o padre Beozzo acredita que o diaconato aponta para uma direção importante ao mostrar que a família não entra em conflito com o “servir a Igreja”. “Saúdo o Vaticano por ter resgatado o diaconato, mas espero que ele seja um ponto de partida e não de chegada.”


Fonte: Revista "Isto é"
Autora: Débora Rubin