sábado, 14 de novembro de 2009
VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" DEI PRESULI DELLA CONFERENZA EPISCOPALE DEL BRASILE (REGIONE SUL 1)
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
REPORTAGEM VATICANA
Os especialistas em comunicação do Vaticano se reuniram semana passada, em Roma, para elaborar um documento sobre a Igreja e a nova mídia. Mas algo curioso aconteceu: depois de muitas criticas sobre o primeiro esboço do texto, eles decidiram iniciar novamente. Hoje, na Reportagem Vaticana vamos ver como nascem os documentos vaticanos e como, às vezes, não saem do papel. Eu sou John Thavis, responsável pelo escritório de Catholic News Service em Roma.
E eu sou Carol Glatz, correspondente em Roma de CNS. O que aconteceu no Pontifício Conselho das Comunicações Sociais não é muito comum. Todos concordam em dizer que as novas mídias são realmente importantes para a Igreja, por isso um documento a respeito parecia uma boa idéia. Mas os participantes do encontro no Vaticano, entre os quais muitos profissionais da mídia católica, não apreciaram o “vaticanês” - uma espécie de linguagem eclesial burocrática muito soporífera – na qual foi escrita o primeiro esboço do documento. Por isso foi mandado de novo ao remetente para ser reescrito.
Bom, é uma maneira muito democrática de escrever um documento, e nem todos os organismos vaticanos agem assim. As nove congregações vaticanas, por exemplo, mantêm tudo secreto até que o documento não esteja pronto para ser publicado. Existe consulta também, mas é confidencial. E pode levar muitos anos para esses documentos alcançarem a reta final. Só para dar um exemplo, o Vaticano demorou quase 10 anos para publicar seu documento dizendo que homossexuais não deveriam ser ordenados padres – sobre este assunto, houve um grande debate interno, mas pouca discussão fora.
Nos últimos 25 anos, a Congregação para a Doutrina da Fé foi o organismo vaticano que publicou mais documentos. E sua tarefa é rever qualquer documento sobre questões doutrinas. Todavia, mesmo sem poder de veto, tem igualmente um peso notável, e pode em algumas ocasiões obrigar a reescrever um documento.
Os documentos do Papa Bento XVI não estão sujeitos à mesma forma de escrutínio. Mas quando escreve uma encíclica ou outro texto importante, também o papa consulta organismos do Vaticano ou especialistas. Certamente, ele é livre para rejeitar conselhos – e fontes dizem que ele fez isso cerca de dois anos atrás quando ampliou o possível uso da missa tridentina.
Aquele documento era um “Motu proprio”, que em latim significa “de própria iniciativa”. E o Papa publicou vários sobre regras do Conclave, sobre os tradicionalistas católicos e sobre outros argumentos. Além disso, o papa escreveu dezenas de cartas sobre questões como a política econômica, a música litúrgica e a Igreja na China, que mesmo indo direto ao assunto, não têm, todavia o mesmo peso ou autoridade de uma encíclica.
Algumas vezes é mais fácil escrever um livro do que escrever um documento vaticano. Como fez recentemente o Cardeal Walter Kasper, talvez porque soubesse que suas reflexões sobre ecumenismo poderiam permanecer por muito tempo em análise antes de se tornarem um documento vaticano. E até mesmo o Papa Bento XVI optou por publicar suas reflexões sobre Jesus de Nazaré não como documento papa, mas como livro – que logo se tornou um bestseller. Eu sou John Thavis.
Fonte: H2ONews - 10/11/2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
BENTO XVI: “TEOLOGIA DO CORAÇÃO”, MAIS QUE “TEOLOGIA DA RAZÃO”
Intervenção durante a audiência geral
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Catequese do Papa Bento XVI durante a audiência geral de hoje com os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
***
Queridos irmãos e irmãs:
Na última catequese, apresentei as principais características da teologia monástica e da teologia escolástica do século XII, que poderíamos chamar, de certa forma, respectivamente, de “teologia do coração” e “teologia da razão”.
Entre os representantes de uma e de outra corrente teológica houve um amplo debate, às vezes intenso, simbolicamente apresentado pela controvérsia entre São Bernardo de Claraval e Abelardo.
Para compreender esta confrontação entre os dois grandes mestres, é bom recordar que a teologia é a busca de uma compreensão racional, enquanto for possível, do mistério da Revelação cristã, que acreditamos pela fé: fides quaerens intellectum – a fé busca a inteligibilidade –, por citar uma definição tradicional, concisa e eficaz.
Pois bem, enquanto São Bernardo, típico representante da teologia monástica, enfatiza a primeira parte da definição, isto é, a fides (a fé), Abelardo, que é um escolástico, incide sobre a segunda parte, isto é, sobre o intellectus, sobre a compreensão por meio da razão.
Para Bernardo, a própria fé está dotada de uma íntima certeza, fundada no testemunho da Escritura e no ensinamento dos Padres da Igreja. A fé, além disso, reforça-se pelo testemunho dos santos e pela inspiração do Espírito Santo na alma de cada crente. Nos casos de dúvida e de ambiguidade, a fé deve ser protegida e iluminada pelo exercício do Magistério eclesial.
Assim, para Bernardo, era difícil estar de acordo com Abelardo, e mais em geral com aqueles que submetiam as verdades da fé ao exame crítico da razão; um exame que comportava, em sua opinião, uma grave perigo, o intelectualismo, a relativização da verdade, a discussão das próprias verdades da fé.
Nesta forma de proceder, Bernardo via uma audácia levada até a falta de escrúpulos, fruto do orgulho da inteligência humana, que pretende “capturar” o mistério de Deus. Em uma de suas cartas, com muita dor, ele escreve: “A criatividade humana se apodera de tudo, não deixando nada para a fé. Enfrenta o que está acima dela, escruta o que lhe é superior, irrompe no mundo de Deus, altera os mistérios da fé, mais do que os ilumina; não abre o que está fechado e selado, mas o erradica; e o que não acha viável, considera como nada e rejeita crer nisso” (Epístola CLXXXVIII,1: PL 182, I, 353).
Para Bernardo, a teologia tem um único fim: o de promover a experiência viva e íntima de Deus. A teologia é, portanto, uma ajuda para amar cada vez mais e melhor o Senhor, como recita o título do tratado sobre o Dever de amar a Deus (De diligendo Deo).
Neste caminho, há diversos graus, que Bernardo descreve detalhadamente, até o cume, quando a alma do crente se embriaga nas alturas do amor. A alma humana pode alcançar, já na terra, essa união mística com o Verbo divino, união que o Doutor Melífluo descreve como “bodas espirituais”. O Verbo divino a visita, elimina as últimas resistências, ilumina-a, inflama-a e a transforma. Nesta união mística, a alma goza de uma grande serenidade e doçura, e canta ao seu Esposo um hino de alegria.
Como recordei na catequese dedicada à vida e à doutrina de São Bernardo, a teologia para ele não pode senão nutrir-se da oração contemplativa; em outras palavras, da união afetiva do coração e da mente com Deus.
Abelardo, que, por sua vez, é precisamente quem introduziu o termo “teologia” no sentido que entendemos hoje, coloca-se em uma perspectiva diversa. Nascido em Bretanha, na França, este famoso professor do século XII estava dotado de uma inteligência vivíssima e sua vocação era o estudo.
Ele se dedicou primeiro à filosofia e depois aplicou os resultados alcançados nesta disciplina à teologia, da qual foi professor na cidade mais culta da época, Paris, e sucessivamente nos mosteiros em que viveu.
Era um orador brilhante: suas aulas eram acompanhadas por verdadeiras massas de estudantes. De espírito religioso, mas personalidade inquieta, sua existência foi rica em golpes de cena: rebateu seus professores, teve um filho com uma mulher culta e inteligente, Eloísa; esteve frequentemente em polêmica com seus colegas teólogos; sofreu também condenações eclesiásticas, ainda que tenha morrido em plena comunhão com a Igreja, a cuja autoridade se submeteu com espírito de fé.
Precisamente São Bernardo contribuiu para a condenação de algumas doutrinas de Abelardo no sínodo provincial de Sens em 1140, e solicitou também a intervenção do papa Inocêncio II. O abade de Claraval rejeitava, como recordamos, o método intelectualista demais de Abelardo, que a seu ver reduzia a fé a uma simples opinião desvinculada da verdade revelada.
Os temores de Bernardo não eram infundados, mas compartilhados pelos demais, por outros grandes pensadores da sua época. Efetivamente, um uso excessivo da filosofia tornou perigosamente frágil a doutrina trinitária de Abelardo e, consequentemente, sua ideia de Deus.
No campo moral, seu ensinamento não estava privado de ambiguidade: ele insistia em considerar a intenção do sujeito como única fonte para descrever a bondade ou a malícia dos atos morais, descuidando, assim, do significado objetivo e do valor moral das ações: um subjetivismo perigoso.
Este é, como sabemos, um aspecto importante para a nossa época, na qual a cultura aparece frequentemente marcada por uma tendência crescente ao relativismo ético: só o “eu” decide o que é bom para mim, neste momento. Não podemos nos esquecer, contudo, dos grandes méritos de Abelardo, que teve muitíssimos discípulos e que contribuiu para o desenvolvimento da teologia escolástica, destinada a expressar-se de forma mais madura e fecunda no século seguinte.
Não devem ser desvalorizadas algumas das suas intuições, como, por exemplo, quando afirma que nas tradições religiosas não-cristãs já há uma preparação para a acolhida de Cristo, Verbo divino.
O que nós podemos aprender hoje da confrontação, frequentemente intensa, entre Bernardo e Abelardo e, em geral, entre a teologia monástica e a escolástica?
Antes de mais nada, penso que mostra a utilidade e a necessidade de uma discussão teológica sadia na Igreja, sobretudo quando as questões debatidas não foram definidas pelo Magistério, que continua sendo, contudo, um ponto de referência iniludível. São Bernardo, mas também o próprio Abelardo, reconheceram sempre sua autoridade. Além disso, as condenações que este último sofreu nos recordam que no campo teológico deve haver um equilíbrio entre os que poderíamos chamar de princípios arquitetônicos, que nos foram dados pela Revelação e que conservam por isso sempre uma importância prioritária, e os interpretativos, sugeridos pela filosofia, isto é, pela razão, e que têm uma função importante, mas só instrumental.
Quando este equilíbrio entre a arquitetura e os instrumentos de interpretação diminui, a reflexão teológica corre o risco de contaminar-se com erros, e corresponde então ao Magistério o exercício desse necessário serviço à verdade, que lhe é próprio.
Além disso, é preciso sublinhar que, entre as motivações que induziram Bernardo a colocar-se contra Abelardo e a solicitar a intervenção do Magistério, estava também a preocupação por salvaguardar os crentes simples e humildes, aqueles a quem é preciso defender quando correm o risco de ser confundidos ou desviados por opiniões muito pessoais e por argumentações teológicas sem escrúpulos, que poderiam colocar sua fé em perigo.
Eu gostaria de recordar, finalmente, que a confrontação teológica entre Bernardo e Abelardo concluiu com uma plena reconciliação entre eles, graças à mediação de um amigo comum, o abade de Cluny, Pedro o Venerável, de quem falei em uma das catequeses anteriores. Abelardo mostrou humildade em reconhecer seus erros. Bernardo usou de grande benevolência. Em ambos, prevaleceu o que deve estar verdadeiramente no coração quando nasce uma controversa teológica, isto é, salvaguardar a fé da Igreja e fazer a verdade triunfar na caridade. Que esta seja também hoje a atitude nas confrontações na Igreja, tendo sempre como meta a busca da verdade.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Uma cordial saudação aos peregrinos vindos de Coimbra e de São Paulo, ao grupo de Focolarinos do Brasil, aos fiéis cristãos da Catedral Nossa Senhora da Conceição em Bragança Paulista, com seu bispo, Dom José Maria Pinheiro, e à tripulação do Navio-Escola “Brasil” com o seu comandante, que aqui vieram movidos pelo desejo de afirmar e consolidar sua fé e adesão a Cristo, o Senhor dos Navegantes. Ele vos encha de alegria e o seu Espírito ilumine todas as decisões da vossa vida para realizardes fielmente o projeto de Deus a vosso respeito. Acompanha-vos a minha oração e bênção.
[Tradução: Aline Banchieri ©Libreria Editrice Vaticana]
Fonte: Zenit
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