quarta-feira, 11 de novembro de 2009

REPORTAGEM VATICANA

Os especialistas em comunicação do Vaticano se reuniram semana passada, em Roma, para elaborar um documento sobre a Igreja e a nova mídia. Mas algo curioso aconteceu: depois de muitas criticas sobre o primeiro esboço do texto, eles decidiram iniciar novamente. Hoje, na Reportagem Vaticana vamos ver como nascem os documentos vaticanos e como, às vezes, não saem do papel. Eu sou John Thavis, responsável pelo escritório de Catholic News Service em Roma.
E eu sou Carol Glatz, correspondente em Roma de CNS. O que aconteceu no Pontifício Conselho das Comunicações Sociais não é muito comum. Todos concordam em dizer que as novas mídias são realmente importantes para a Igreja, por isso um documento a respeito parecia uma boa idéia. Mas os participantes do encontro no Vaticano, entre os quais muitos profissionais da mídia católica, não apreciaram o “vaticanês” - uma espécie de linguagem eclesial burocrática muito soporífera – na qual foi escrita o primeiro esboço do documento. Por isso foi mandado de novo ao remetente para ser reescrito.
Bom, é uma maneira muito democrática de escrever um documento, e nem todos os organismos vaticanos agem assim. As nove congregações vaticanas, por exemplo, mantêm tudo secreto até que o documento não esteja pronto para ser publicado. Existe consulta também, mas é confidencial. E pode levar muitos anos para esses documentos alcançarem a reta final. Só para dar um exemplo, o Vaticano demorou quase 10 anos para publicar seu documento dizendo que homossexuais não deveriam ser ordenados padres – sobre este assunto, houve um grande debate interno, mas pouca discussão fora.
Nos últimos 25 anos, a Congregação para a Doutrina da Fé foi o organismo vaticano que publicou mais documentos. E sua tarefa é rever qualquer documento sobre questões doutrinas. Todavia, mesmo sem poder de veto, tem igualmente um peso notável, e pode em algumas ocasiões obrigar a reescrever um documento.
Os documentos do Papa Bento XVI não estão sujeitos à mesma forma de escrutínio. Mas quando escreve uma encíclica ou outro texto importante, também o papa consulta organismos do Vaticano ou especialistas. Certamente, ele é livre para rejeitar conselhos – e fontes dizem que ele fez isso cerca de dois anos atrás quando ampliou o possível uso da missa tridentina.
Aquele documento era um “Motu proprio”, que em latim significa “de própria iniciativa”. E o Papa publicou vários sobre regras do Conclave, sobre os tradicionalistas católicos e sobre outros argumentos. Além disso, o papa escreveu dezenas de cartas sobre questões como a política econômica, a música litúrgica e a Igreja na China, que mesmo indo direto ao assunto, não têm, todavia o mesmo peso ou autoridade de uma encíclica.
Algumas vezes é mais fácil escrever um livro do que escrever um documento vaticano. Como fez recentemente o Cardeal Walter Kasper, talvez porque soubesse que suas reflexões sobre ecumenismo poderiam permanecer por muito tempo em análise antes de se tornarem um documento vaticano. E até mesmo o Papa Bento XVI optou por publicar suas reflexões sobre Jesus de Nazaré não como documento papa, mas como livro – que logo se tornou um bestseller. Eu sou John Thavis.

Fonte: H2ONews - 10/11/2009

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