Também a Turim o Papa foi, como sucessor de Pedro, para confirmar os seus irmãos na fé. Levando no coração toda a Igreja, aliás, toda a humanidade, como quis dizer explicitamente depois de ter rezado diante do Santo Sudário. Diante deste objeto sagrado e misterioso que talvez seja a imagem mais célebre do rosto e do corpo de Cristo Bento XVI deteve-se longamente, envolvido por aquele silêncio quase irreal que surpreende cada visitador, peregrino ou apenas curioso, não obstante o imponente e incessante suceder-se quotidiano de milhares de pessoas.
Na meditação o Papa recordou as narrações evangélicas e uma reflexão tirada da antiga tradição cristã, porque o silêncio que promana do lençol mesmo entre as centenas de classes de crianças admiradas que são levadas nestas semanas pelos seus professores à Catedral de Turim é o mesmo que envolveu a terra depois da sepultura do Senhor: "Grande silêncio porque o Rei dorme", morto na carne para descer "à mansão dos mortos e abalá-la".
Foram suficientes estas palavras de uma homilia dos primeiros séculos para mover as palavras de Bento XVI, que se tornou ainda mais sensível à mensagem do Santo Sudário quis revelar pelo avançar da idade. Palavras que o Papa comparou com as de Nietzsche, tão repetidas quão perturbadas: "Deus está morto! E nós matámo-lo!". O brado do pensador eleva-se quase de uma moderna via crucis, antecipando na sua desesperada lucidez os horrores do século XX, que muitos ainda se obstinam a ignorar, esconder, justificar.
Eis o verdadeiro mistério do sinal contido no enigmático lençol sepulcral do qual Turim se orgulha: isto é, a inaudita novidade daquele que atravessou a obscuridade da morte e desceu ao inferno "onde reina o abandono total" para nele fazer ressoar a voz de Deus que venceu para sempre o mal e a morte. Uma realidade que até os mais pequeninos e os mais simples podem compreender: como o medo da escuridão sentido por crianças que é afastado pela presença de quem os ama, explicou Bento XVI, que tem o dom humano e espiritual de se fazer compreender por todos.
E do mistério do Santo Sudário que fala com o sangue provém o seu poder, porque disse o Papa com toda a tradição bíblica o sangue é a vida: de fato, a imagem no lençol é "a de um morto, mas o sangue fala da sua vida". E desta vida falou mais uma vez Bento XVI nos seus encontros com os turinenses: anunciando aquele que mostrou como se deve amar e ofereceu "a certeza de que não estamos sós". De fato Deus "está próximo de cada um com o seu amor": um amor, que certamente não se limita ao passado, que sabe que tem de enfrentar todos os dias dificuldades e tribulações.
Compete então a todos mulheres e homens, jovens e idosos imitar Cristo. Para "viver e não para ir vivendo", segundo uma expressão de Pier Giorgio Frassati, querido não só aos turinenses, que o Papa quis recordar aos jovens, mas falando a todos. É esta a mensagem que provém do sinal silencioso do Santo Sudário, daquela imagem dramática, mas serena que representa a morte de Deus denunciada por Nietzsche. Daquele Deus que desceu à mansão dos mortos para libertar da armadilha da morte todas as criaturas humanas.
Autor: Giovanni Maria Vian
Fonte: ©L'Osservatore Romano - 8 de maio de 2010
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