terça-feira, 6 de julho de 2010

BREVE REFLEXÃO SOBRE O DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (REGIÃO NORTE II) EM VISITA "AD LIMINA"

“[...] é fundamental, nos itinerários de educação à fé, "se destaque que no sacramento da Eucaristia Cristo é verdadeiramente, realmente e substancialmente presente."
Com estas palavras o papa Bento XVI, na ultima 3ª. Feira – 15/06/2010 - abriu na Basílica romana de São João de Latrão, o congresso da diocese de Roma dedicado à Eucaristia dominical e ao testemunho da caridade.
Permito-me utilizar da palavra do Sucessor de Pedro para melhor identificar nossa posição de maneira adequada e contextualizada ante os anseios de nossos dias. O Povo de Deus reunido em torno da mesa, em um colóquio sobre o tema: “A caminhada da Pastoral Afro na Região Brasilândia”, oferece-nos o conviver com o Cristo Ressuscitado e sempre presente.
Presença sentida no irmão excluído e segregado, no pobre discriminado, no próximo tão distante, na família, no trabalho, na comunidade, nos sacramentos, nos sacramentais, na liturgia, na Eucaristia. E a celebração da Eucaristia, como explicou Bento XVI, é encontro com esse Cristo Ressuscitado "presente no nosso hoje", nos impõe e, "ao mesmo tempo nos torna capazes de nos tornar, por nossa vez, pão partido para os nossos irmãos, vindo ao encontro de suas exigências e doando nós mesmos". Por isso, uma celebração eucarística que não conduz a encontrar os homens ali onde vivem, trabalham e sofrem, para oferecer-lhes o amor de Deus, não manifesta a verdade que encerra.
A partir do Concilio Vaticano II, e da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (37-40), teve principio a inculturação da liturgia cristã, após mil anos de uma rigidez litúrgica, fez com que diversas comunidades incorressem em erros e distúrbios no processo de inculturação dos ritos litúrgicos romanos. O processo de inculturação requer um conhecimento aprofundado dos aspectos sociológicos, psicológicos e antropológicos dos grupos étnicos e das pessoas.
O cerne da inculturação é a conjugação de grupos étnicos ao redor de suas tradições culturais, religiosos e folclóricos; e da teologia litúrgica que elabora uma releitura nas tradições culturais e religiosas do povo, assimilando a religiosidade local, sem se esquecer das orientações teológicas e do magistério da Igreja. Fundamentos e orientações teológicas e litúrgicas que encontramos na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (37-40) esclarecem que a Igreja não pretende impor uma forma rígida para os ritos, mas deseja cultivar elementos e valores dos diversos povos, valorizando seus costumes, sempre atento a purificação de superstições e erros doutrinais de acordo com normas do espírito litúrgico.
Devemos estar atentos no resguardo da unidade substancial do Rito Romano, sem nos esquecermos de nos aprofundarmos liturgicamente para programar adaptações, renovações nas rubricas e na reestruturação dos ritos. Importância também relevante é o estudo das estruturas culturais, bens de vida humana compreendida a partir de conjunto de valores, organização de temas, institucionalização da postura da comunidade ante ao modelo apresentado e ao elemento cultural a ser assimilado e/ou adaptado.
No que tocante às adaptações litúrgicas devem ser obedecidos critérios de fé, de eclesiologia, de antropologia e de liturgia. Devemos sempre nos ater a similaridade de conceitos como inculturação e adaptação, pois elas são distintas e ao mesmo tempo interligadas. Os princípios fundamentais a uma ação inculturada requerem uma identificação antropológico-teológica, sem absolutizar uma cultura e nem impor a outra; a manutenção da unidade da fé católica e o anuncio do Evangelho.
Alicerçados pelo Documento de Aparecida (99b) que diz:
“A renovação litúrgica acentuou a dimensão celebrativa e festiva da fé cristã centrada no mistério pascal de Cristo Salvador, em particular na Eucaristia. Crescem as manifestações da religiosidade popular, especialmente a piedade eucarística e a devoção mariana. Esforços têm sido realizados para inculturar a liturgia nos povos indígenas e afro-americanos. Estão sendo superados os riscos de reduzir a Igreja a sujeito político, com um melhor discernimento dos impactos sedutores das ideologias. Têm-se fortalecido a responsabilidade e a vigilância com relação às verdades da Fé, ganhando em profundidade e serenidade de comunhão.”
E para tanto, somos chamados ao compromisso de oferecer o Evangelho de Jesus Cristo com o testemunho de nossas vidas, no conhecimento antropológico das comunidades, na reflexão teológica, na universalidade própria do ser católico, na promoção dos povos de diferentes culturas e seus valores. Acima de tudo seja a manifestação do mistério pascal da fé cristã, nas celebrações litúrgicas, o centro e o cerne.
O papa João Paulo II também se pronunciou aos bispos brasileiros da Conferência dos Bispos do Brasil – Regional Nordeste III em visita “ad limina apostolorum” (29/09/1995) de modo mais contundente que agora seu sucessor o faz:
“[...] Como compreenderão, o respeito pelas diversas culturas e a correspondente inculturação evangélica aborda questões que merecem um destaque a parte. Não é possível, contudo, descurar aqui a consideração da cultura afro-brasileira no quadro mais amplo da evangelização “ad gentes”, e que hoje é bem presente na reflexão teológica e pastoral de vossas Igrejas particulares em terras do Brasil. Trata-se da delicada questão da aculturação, de modo especial dos ritos litúrgicos, ao vocabulário, às expressões musicais e corporais típicas da cultura afro-brasileira. Sobre este tema tão complexo gostaria de tecer algumas considerações. [...] ”
E suas considerações nos proporcionaram uma forte reflexão em nossa caminhada de fé. Analisamos, estudamos, verificamos, propomos, contudo as portas de uma liturgia inculturada (e não aculturada) requerem um trabalho mais adequado às solicitações e anseios de nossas comunidades. Devemos estar sempre a disposição de nossos irmãos e irmãs, na formação, na orientação e na elucidação de temas e posturas mais complexas, de nossas celebrações, ante a humildade e simplicidade de nosso povo.
Cristo Ressuscitado é quem surge e brilha através da Celebração Eucarística, pois sua missão, e a do Espírito Santo é a de anunciar, atualizar e comunicar o Mistério da Salvação. Que a nossa assembléia, na Celebração Eucarística seja de testemunho e crença, de formação capaz de abranger toda a riqueza dada a nos, membros da Igreja Universal (Católica).

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