quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DOM ODILO É NOMEADO MEMBRO DO COMITÊ DA PRESIDÊNCIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA

O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, está entre os nomeados que irão compor a nova formação do Comitê de Presidência do Pontifício Conselho para a Família. Os sete novos integrantes do órgão, além de novos consultores, foram anunciados hoje pela Sala de Imprensa da Santa Sé.

O presidente do Pontifício Conselho continua o mesmo, cardeal Ennio Antonelli. O Comitê da Presidência é composto por 15 cardeais e 12 arcebispos e bispos; 19 casais de cônjuges, provenientes de todo o mundo são também membros do dicastério, o qual dispõe ainda da colaboração de 43 consultores e 10 oficiais. O Pontifício Conselho foi criado por João Paulo II em 1981, a partir do Motu Proprio "Família", substituindo o Comitê para a Família que foi criado por Paulo VI em 1973.

O Conselho é responsável pela promoção do ministério pastoral e o apostolado da família, em aplicação aos ensinamentos e às orientações do magistério eclesiástico. Além disso, promove e coordena os esforços com ordem à procriação responsável e encoraja, apoia e coordena as iniciativas em defesa da vida humana em todo o âmbito de sua existência, da concepção à morte natural. Também versa sobre questões de educação sexual, demografia, contracepção e aborto, esterilização, questões éticas e pastorais com respeito à AIDS e outros problemas de bioética, a legislação relativa ao matrimônio e à família, políticas familiares e a tutela da vida humana.

Os novos membros do Comitê da Presidência escolhidos hoje são: os cardeais dom Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão; D. Keith Michael Patrick O'brien, arcebispo de Saint Andrews e Edinburgh (Grã Bretanha); D. Sean Patrick O'malley, arcebispo de Boston; D. Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo; Sua Beatitude Fouad Twal, Patriarca de Jerusalém dos Latinos; e os arcebispos: Socrates B. Villegas, de Lingayen-Dagupan (Filipinas), e Francisco Gil Hellín, arcebispo de Burgos (Espanha).

Além dos membros do Comitê da Presidência, foram definidos hoje também os novos casais de leigos e os novos consultores que comporão o quadro do dicastério.

Fonte: Gaudium Press

NOMINE NEL PONTIFICIO CONSIGLIO PER LA FAMIGLIA

Il Santo Padre ha adottato le seguenti decisioni relative al Pontificio Consiglio per la Famiglia:

- ha nominato Membri del Comitato di Presidenza gli Eminentissimi Signori Cardinali: Dionigi TETTAMANZI, Arcivescovo di Milano (Italia); Keith Michael Patrick O'BRIEN, Arcivescovo di Saint Andrews and Edinburgh (Gran Bretagna); Sean Patrick O'MALLEY, Arcivescovo di Boston (U.S.A.); Odilo Pedro SCHERER, Arcivescovo di São Paulo (Brasile); Sua Beatitudine Fouad TWAL, Patriarca di Gerusalemme dei Latini (Gerusalemme); gli Eccellentissimi Monsignori: Socrates B. VILLEGAS, Arcivescovo di Lingayen-Dagupan (Filippine); Francisco GIL HELLÍN, Arcivescovo di Burgos (Spagna).

- ha inoltre nominato Membri del medesimo Dicastero gli Illustrissimi Signori Coniugi: Attila e Júlia GERGELY (Ungheria), Jaime Armando Miguel e Ligia Maria Moniz DA FONSECA (India), David E. e Mary-Joan Osatohanmwen OSUNDE (Nigeria), John S. e Claire GRABOWSKI (U.S.A.), Umberto DÍAZ VICTORIA e Isabel BOTÍA APONTE (Colombia), Leon BOTOLO MAGOZA e Marie Valentine KISANGA SOSAWE (Rep. Dem. del Congo), Naser e Amira (Simaan) SHAKKOUR (Israele), Tomás MELENDO GRANADOS e Lourdes MILLÁN ALBA (Spagna), José Luis e Veronica VILLASEÑOR (Messico).

- ha infine nominato Consultori del medesimo Pontificio Consiglio per la Famiglia i Reverendi Signori: Mons. Livio MELINA, Preside del Pontificio Istituto "Giovanni Paolo II" per Studi su Matrimonio e Famiglia (Italia); Augusto SARMIENTO, Docente presso la Facoltà di Teologia dell'Università di Navarra (Spagna); Brice DE MALHERBE, Docente dell'École Cathédrale e della Facoltà Notre-Dame di Parigi (Francia); P. Edoardo SCOGNAMIGLIO, O.F.M. Conv., Ministro Provinciale dei Frati Minori Conventuali di Napoli (Italia); gli Illustrissimi Signori: Prof. Pierpaolo DONATI, Docente presso il dipartimento di Sociologia dell'Università di Bologna (Italia); Dott. Francesco BELLETTI, Membro della Consulta Nazionale di Pastorale Familiare dell'Ufficio per la Pastorale della Famiglia della Conferenza Episcopale Italiana (Italia); Prof. Stefano ZAMAGNI, Docente presso la Facoltà di Economia dell'Università di Bologna (Italia); Prof. Rafael NAVARRO-VALLS, Docente di Diritto della "Universidad Complutense" di Madrid (Spagna); Prof. Nicolás JOUVE DE LA BARREDA, Docente di Genetica alla "Universidad de Alcalá" (Spagna); Dott. Salvatore MARTINEZ, Presidente dell'Istituto di Promozione Umana "Mons. Francesco di Vincenzo" (Italia); José de Jesús HERNÁNDEZ RAMOS, Consigliere del "Doha International Institute for Family Studies an Development" (Messico); Coniugi Frank e Julie LABODA, (U.S.A.); le Gentili Signore: Prof.ssa Germina Namatovu SSEMOGERERE, Consultore del "Capacity Building Programme for Ministry of Local Government Civil Service Personnel" (Uganda); Prof.ssa Eugenia SCABINI, Preside della Facoltà di Psicologia dell'Università Cattolica del Sacro Cuore di Milano (Italia); Prof.ssa Teresa STANTON COLLET, Docente della "University of St. Thomas School of Law" di Minneapolis (U.S.A.); Prof.ssa Susanne TIEMANN, Docente di Diritto Sociale presso la "Katholische Fachhochschule Nordrhein-Westfalen" di Colonia (Germania); Michaela Freifrau HEEREMAN VON ZUYDTWYCK, Volontaria nell'Associazione "Elternverein Nordrhein-Westfalen" (Germania).

Fonte: Vaticano

EVANGELHO SEGUNDO S. LUCAS 9,57-62

Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que vá.» Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino de Deus.»

Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Santo Inácio de Loyola (1491-1556), fundador dos jesuítas
Exercícios espirituais, 2ª semana, 12º dia (a partir da trad. DDB 1986, p. 103)

«Segue-Me»

Os três tipos de humildade: o primeiro tipo de humildade é necessário à salvação eterna. E consiste em me rebaixar e me humilhar tanto quanto me for possível, para obedecer em tudo à Lei de Deus Nosso Senhor. De tal modo que, mesmo que me tornassem senhor de todas as coisas criadas neste mundo ou mesmo que estivesse em risco a minha própria vida temporal, nunca pensaria em transgredir um mandamento, fosse ele divino ou humano. [...]

O segundo tipo de humildade é uma humildade mais perfeita que a primeira. E consiste nisto: encontro-me num ponto em que não desejo nem tendo a possuir a riqueza mais do que a pobreza, a querer a honra mais do que a desonra, a desejar uma vida longa mais do que uma vida curta, quando as alternativas não afetam o serviço de Deus Nosso Senhor e a salvação da minha alma. [...]

O terceiro tipo de humildade é a humildade mais perfeita: é quando, incluindo a primeira e a segunda, sendo iguais o louvor e a glória da Sua divina majestade, para imitar Cristo Nosso Senhor e me assemelhar a Ele mais eficazmente, desejo e escolho a pobreza com Cristo pobre em vez da riqueza, o opróbrio com Cristo coberto de opróbrios em lugar de honrarias; e desejo mais ser tido por insensato e louco para Cristo, que antes de todos foi tido como tal, do que «sábio e prudente» neste mundo (Mt 11, 25).

terça-feira, 29 de setembro de 2009

SACERDOTES SÃO INSUBSTITUÍVEIS E SERVEM A TODOS OS HOMENS, DIZ BENTO XVI


Em uma vídeo-mensagem cujo conteúdo foi dado a conhecer hoje, o Papa Bento XVI recordou aos mais de mil e 200 sacerdotes de 75 países que participam de um retiro no Santuário de Ars (França) que "nada substituirá jamais o ministério dos sacerdotes no coração da Igreja" e que sua missão abrange o serviço a todos os homens.

Aos presbíteros que participam deste retiro cujas reflexões estão aos cuidados do Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena (Áustria) sobre o tema "A alegria de ser sacerdote: consagrado para a salvação do mundo", o Santo Padre recordou que "o sacerdote está chamado a servir aos homens e a dar-lhes a vida de Deus".

O sacerdote, disse o Papa, "é homem da Palavra divina e das coisas sagradas, e deve ser hoje mais que nunca um homem da alegria e da esperança. A quem não pode conceber que Deus seja Amor puro, afirmará sempre que a vida vale a pena ser vivida e que Cristo lhe dá todo seu sentido porque ama a todos os seres humanos".

Bento XVI se dirigiu logo aos sacerdotes que têm que atender várias paróquias e que "se entregam sem regular esforços por manter uma vida sacramental em suas diferentes comunidades. O reconhecimento da Igreja por todos vós é imenso! Não se desanimem, mas sim que sigam rezando e fazendo rezar para que muitos jovens aceitem a resposta à chamada de Cristo, que deseja que siga aumentando o número de seus apóstolos para colher seus campos".

Seguidamente o Papa animou aos sacerdotes a pensarem "na extrema diversidade dos ministérios" que exercem "ao serviço da Igreja" e em "o grande número de missas que celebram ou celebrarão, fazendo realmente viva a presença de Cristo no altar a cada vez".

"Pensem nas inumeráveis absolvições que destes e que darão, liberando de sua carga os pecadores. Perceberão assim a fecundidade infinita do sacramento da Ordem. Suas mãos, seus lábios se converteram, durante um instante, nas mãos e os lábios de Deus", expressou.

"Essa consideração deve levá-los a harmonizar as relações entre os presbíteros para formar essa comunidade sacerdotal a que exortava São Pedro para construir o corpo de Cristo e afiançá-los no amor".

Bento XVI explicou também que "o sacerdote é o homem do futuro. O que faz nesta terra pertence à ordem dos meios encaminhados ao Fim último. A Missa é esse exclusivo ponto de união entre os meios e o Fim, já que nos permite contemplar sob a humilde aparência do pão e do vinho o Corpo e o Sangue daquele que adoraremos na eternidade".

"Nada substituirá jamais o ministério dos sacerdotes no coração da Igreja", assegurou o Papa e concluiu recordando aos presbíteros que "são o testemunho vivente da potência de Deus em obra na debilidade dos seres humanos, consagrados para a salvação do mundo, escolhidos por Cristo mesmo para ser, graças a Ele, sal da terra e luz do mundo".

Fonte: Agência ACI - VATICANO, 29 Set. 09

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

IOM KIPUR


O dia do perdão

Rabi Krospedai disse a Rabi Yochanan: três livros são abertos em Rosh Hashaná. Um para pecadores totais, um para pessoas totalmente justas e um para os medianos. As pessoas totalmente justas são imediatamente inscritas e seladas para a vida; os pecadores totais são imediatamente inscritos e selados para a morte. E os medianos ficam suspensos, aguardando de Rosh Hashaná até Iom Kipur para ver se merecerão ser inscritos para a vida

Trecho da Guemará

Iom Kipur – o Dia do Perdão – é considerado por muitos como a data mais importante do calendário judaico, quando, de acordo com a tradição, Deus decide quem será inscrito no Livro da Vida. O Iom Kipur, também conhecido como “o Shabat dos Shabatot” ou Dia do Julgamento, encerra o ciclo dos chamados Iamim Noraim (Dias Intensos ou Dias Temíveis) e é celebrado dez dias depois de Rosh Hashaná.

A data é dedicada à expiação, orações e introspecção. Isso porque se acredita que Deus irá selar o Livro da Vida com os nomes daqueles que se arrependeram de seus pecados. É costume as pessoas se dirigirem aos familiares e amigos para pedir desculpas por algo que tenham feito ao longo do ano.

Restrições observadas em Iom Kipur visam aproximar os seres humanos da purificação. Não se deve comer ou beber, tomar banho, embelezar-se ou manter relações sexuais. É costume não trabalhar e as pessoas passam a maior parte do tempo nas sinagogas, com destaque para o final da cerimônia, quando se ouve o toque do shofar e termina o jejum de 24 horas.

Cerimônias

Na véspera de Iom Kipur, após um jantar festivo ainda no meio da tarde (para dar tempo de ir à sinagoga), as congregações liberais realizam a cerimônia inicial. A primeira reza é o tradicional Kol Nidrei (“Todos os meus pecados”, em hebraico), repetido três vezes para que todos tenham a oportunidade de escutá-lo, mesmo aqueles que chegarem atrasados. É o único serviço religioso noturno em que se utiliza o talit.

No dia seguinte, de volta à sinagoga, há diversas orações de confissões. Também é recitado o Izcor – em memória das pessoas já falecidas, assim como acontece em Shemini Atséret, no último dia de Pessach e no segundo dia de Shavuot. O Izcor é tradicionalmente rezado por aquele que perdeu um parente direto (pai, mãe, filho, filha irmão, irmão, marido ou esposa). Algumas famílias ensinam aos jovens que somente quem já é órfão de pai ou de mãe deve permanecer na sinagoga durante o Izcor. Nas comunidades liberais, aquele(a) que quer rezar por um amigo ou por aqueles que tombaram em guerras ou tragédias, por exemplo, pode permanecer na sinagoga.

O Iom Kipur termina com a cerimônia de Neilá (“Trancamento”, em hebraico), quando as sinagogas ficam lotadas, por se tratar, simbolicamente, do momento da decisão final do julgamento de Deus. As portas da Arca Sagrada, onde são guardados os rolos da Torá, permanecem abertas ao longo de toda a cerimônia, em uma analogia à idéia de que as portas do céu também estariam abertas neste momento. Ao final da Neilá, o shofar é tocado, marcando o fechamento dos portões celestes e o fim do Iom Kipur.

Fonte: Site da CIP – Congregação Israelita Paulista

NO SINAI

O perdão é maior do que a justiça, ele cabe ali onde a justiça não seria suficiente

QUANDO VOCÊ estiver lendo esta coluna no dia 28 de setembro, caro leitor, eu estarei de jejum, na sinagoga. Hoje é o Dia do Perdão, data máxima do calendário judaico. O que significa o Dia do Perdão? Um bom ponto de partida para pensar em seu significado é a passagem da Bíblia hebraica quando os hebreus, ao pé do monte Sinai, aguardam o retorno de seu líder Moisés com as tábuas da Lei.

Mas nem tudo saiu como se esperava: Moisés atrasa seu retorno (fica 40 dias na montanha) e o povo perde a paciência. Quando volta, encontra os recém libertos da escravidão no Egito adorando um bezerro de ouro. Deus, irritado, mata a metade ali mesmo. A outra metade será condenada a vagar perdida pelo deserto do Sinai até que morram todos e seus filhos possam, enfim, entrar na terra prometida. E aí está o perdão.

Dirá o leitor irritado: "Mas onde?". Antes de tudo, caro leitor, tenha em mente que perdão e justiça não são a mesma coisa. O perdão é maior do que a justiça, ele cabe ali onde a justiça não seria suficiente. Você pode ser justo com alguma pessoa, sem perdoá-la.

Claro que muitos de nós, pessoas educadas, não acreditam que esta seja uma narrativa histórica, mas sim mítica. O que é um mito? Muita gente boa estudou isso: os psicólogos S. Freud e C.G. Jung, os historiadores das religiões M. Eliade, J. Campbell e K. Armstrong, e o filósofo E. Cassirer. Um modo minimamente correto de entender é pensar que o mito não descreve necessariamente um fato histórico, mas sim vivências humanas ancestrais que falam do significado da vida.

Pessoalmente prefiro ler textos bíblicos como narrativas literárias, além, é claro, de lê-los como livros sagrados, caso a leitura seja confessional, que não é meu caso aqui. Minha restrição a leitura psicologizante ou marxista de textos bíblicos é porque estas leituras pecam por ferir a própria "trama", a fim de reafirmar a teoria que usamos para lê-lo. Explico-me.

O crítico Anatol Rosenfeld escreveu um ensaio em sua coletânea "Texto e Contexto" (ed. Perspectiva) chamado "Psicologia Profunda e Crítica", no qual ele dá boas dicas do por que não abordar um texto literário reduzindo-o a excessos psicologizantes. Sua crítica cai sobre a tentativa de ler, por exemplo, Hamlet como mais um rapazinho que queria transar com a mãe e matar o próprio pai. Ou ler Santa Tereza d'Ávila em chave junguiana e ver em seus escritos místicos mais um processo de individuação.

Acho que no caso freudiano a redução é ainda pior porque o conceito de inconsciente coletivo em Jung preserva um drama maior nos personagens do que uma mera "historinha de uma menina esquisita e sua mania neurótica por Deus". E, por isso, ele sustenta a dramaticidade para além da "mera" sexualidade neurótica da menina.

Para Rosenfeld, não devemos psicologizar personagens porque, ao fazer isso, vamos a "Hamlet" apenas para reencontramos a teoria de Freud e assim perdemos "Hamlet" e ficamos apenas com seu "mesquinho" complexo de Édipo. O mesmo, digo eu, acontece quando lemos a Bíblia à cata de interpretações marxistas ou políticas: lemos a Bíblia para rever a luta de classes e a disputa política, e o drama específico narrado se perde, junto com a força de seus personagens.

Neste sentido, se não entendermos a relação entre o "personagem" Deus de Israel e os heróis bíblicos para além de reduções psicológicas ou políticas, perdemos a força do perdão dado no Sinai.

Deus não precisa perdoar ninguém porque Ele não precisa de ninguém. Este é o personagem. Quando o povo trai a aliança depois de tudo que Ele fez, Ele poderia simplesmente destruir tudo. Fosse Ele apenas justo, o sol pararia de brilhar. A idéia que Deus seja misericordioso nasce do fato que Ele nos criou e é paciente conosco sem precisar sê-lo. Daí a afirmação comum na Bíblia hebraica de que Ele carrega o mundo na palma de Sua mão enquanto nós somos uma sombra que passa.

O filósofo judeu A.I. Heschel (século 20) diz, num texto dedicado ao Dia do Perdão, que neste dia estamos de pé diante de Deus. O sentimento é de "pahad" (medo em hebraico). Devemos abaixar a cabeça e tremer, desnudando um coração que diante de Deus é sempre nu. Evidente que, além do temor, está em questão as grandes virtudes hebraicas, a gratidão, a coragem e a humildade. O pó em nós estremece diante da imensidão infinita que é Deus. Ao ouvir o coração disparado de medo, devemos escutar nele a alegria que é existir.


LUIZ FELIPE PONDÉ
ponde.folha@uol.com.br

Fonte: Folha de São Paulo - Ilustrada