segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CONHECER E VIVER A "PALAVRA DE DEUS"

Que a Palavra de Deus seja mais conhecida, acolhida e vivida como fonte de liberdade e alegria. [Intenção Geral do Santo Padre para o mês de SETEMBRO]

1. Palavra de Deus
Que impacto tem esta expressão (ou a equivalente, Palavra do Senhor) nos cristãos que a escutam durante a celebração eucarística? Sentirão, ao menos, um formigueiro na pele, perante tão inaudita proclamação? Ou estarão já insensíveis, tal é a falta de novidade do anúncio? Para muitos, também entre os cristãos, a Palavra de Deus é, hoje, apenas mais uma «palavra» e, não raro, nem sequer tão pertinente como outras que disputam a atenção, o compromisso e a fé dos homens e mulheres deste tempo. Ficou reduzida a mais um na cacofonia dos discursos que solicitam a nossa adesão, mesmo se apenas por breves instantes, até aparecer a novidade seguinte. Conhecer, acolher e viver a Palavra de Deus é o caminho para recolocá-la no lugar próprio: o centro da vida do cristão.
2. Conhecer a Palavra
Qual o conhecimento que interessa? Certamente, o dos estudiosos que ajudam a compreender melhor o texto sagrado, situando o leitor no tempo e no lugar da sua redação, ajudando a perceber o sentido profundo do que é dito, mostrando o modo como diversas tradições se conjugaram para trazer à luz os textos que hoje lemos – em suma, mostrando como Deus foi agindo, com sabedoria e pedagogia, para dar a conhecer o seu projeto de salvação. Tratando-se, porém, da Palavra de Deus, importa ainda mais aquele conhecimento que resulta do convívio diário com essa Palavra, da sua leitura meditada, do deixar-se questionar por ela... Quando assim acontece, a Palavra de Deus não fica no passado, torna-se Palavra viva, encontro pessoal com Deus, diálogo com Ele, caminho feito com aqueles que Deus escolheu para Se dar a conhecer à humanidade. Mas, para ter solidez e evitar fideísmos ou racionalismos fundamentalistas, este conhecimento deve acontecer em Igreja e deve estar aberto à informação trazida pelo estudo aturado da Bíblia, em Igreja. Pois só em Igreja a verdade da Bíblia – que é verdade de Deus sobre o homem e, portanto, verdade salvadora – se torna plenamente acessível ao crente. Além disso, este contexto eclesial é a melhor garantia face à enxurrada de opiniões, mentiras, especulações, manipulações de que a Bíblia é, atualmente, alvo – em programas de televi-são pretensamente científicos, em livros de exegese, em romances pseudo-históricos, em filmes sem categoria...
3. Acolher e viver a Palavra...
O conhecimento da Palavra de Deus leva com naturalidade ao seu acolhimento, isto é, ao acolhimento de Deus que nos fala. Não se trata de sentimentalismo, mas de verdadeiro encontro entre pessoas: Deus, que conhece cada um de nós e nos é mais íntimo do que nós mesmos (Santo Agostinho), e o crente, que se vai adentrando, lentamente, no mistério de Deus e, pelo desejo e pela ação do Espírito Santo, se vai esvaziando de quanto impede Deus de fazer n’Ele a sua morada. Acolher a Palavra para viver a Palavra, ou seja, acolher Deus para viver com Ele, melhor ainda, viver n’Ele, d’Ele e para Ele. Quando assim acontece, a relação do crente com a Palavra de Deus muda radicalmente. Não se trata mais de um texto lido ou escutado distraidamente, com enfado, como quem cumpre uma rotina. Há nele uma originalidade primeira, impondo-se ao leitor ou ouvinte, surpreendendo-o, convidando-o ou forçando-o a mudar o seu estilo de viver. Não se sai ileso deste encontro. Mas os ferimentos não são de morte, antes princípio de abundância e alegria.
4. ... como fonte de liberdade e alegria
A alegria é a conseqüência natural do encontro entre amigos. Há palavras trocadas, gestos de afeto partilhados, tempo para falar e para escutar... Há, sobretudo, uma experiência de leveza interior e de bem estar que se exprime no riso fácil, não fingido, na refeição partilhada, no repouso distendido. Conhecer, acolher e viver a Palavra de Deus, ou seja, o próprio Deus que fala «como um amigo ao seu amigo» não pode senão resultar num tempo de qualidade marcado pela alegria. O cristão que se deixa encontrar pela Palavra é alguém sempre sereno e alegre – a um nível profundo, bem interior, não raro manifestado exteriormente, mas cuja essência é uma interioridade inalterada, mesmo quando as circunstâncias exteriores são de sofrimento e angústia. Viver assim é ser livre: livre dos medos, dos respeitos humanos; livre no presente e livre face ao futuro; livre para se confiar a Deus e confiar-nos outros; livre mesmo oprimido, perseguido, marginalizado. Será isto uma ilusão? Não responda sem ter feito a experiência...
Elias Couto

Fonte: Agência Ecclesia – 07/09/09

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